REFORMA DA IGREJA – OS CÁTAROS OU
ALBIGENESES
Os
cátaros ou albigeneses, assim chamados porque foram mais numerosos em Albi, no
sul da França,usavam o Novo Testamento como base para suas doutrinas; as idéias
heréticas que nutriam se assemelhavam mais as doutrinas dualistas e ascéticas
dos movimentos gnósticos e maniquístas que invadiram a Igreja Primitiva no
segundo século.
Os
albigeneses criam na existência de um dualismo absoluto entre o Deus bom, que
fez a alma dos homens e o deus mau, que recebeu um corpo material, depois de
ter sido expulso dos céus. Expulso o deus mau formou o mundo visível. Logo a
matéria é má. Rejeitavam os sacramentos, especialmente a missa com sua ênfase
na presença física de Cristo nos elementos da céia. Refutavam as doutrinas do
inferno e do purgatório e da ressurreição física. Condenavam o uso de
qualquer coisa material na adoração.
Os
albigeneses ou cátaros “puritanos”, conseguiram proeminência no sul da França,
mais ou menos em 1170. Eles rejeitavam a autoridade da tradição, distribuíam o
Novo Testamento e opunham-se às doutrinas romanas da adoração de imagens e as
pretensões sacerdotais. Tinham algumas idéias estranhas relacionadas com os
antigos maniqueus, e rejeitavam o Antigo Testamento. O papa Inocêncio III, em
1208, mobilizou uma “cruzada” contra eles, e a seita foi dissolvida com o
assassínio de quase toda a população da região, tanto católica como a herege.
A
história dos cátaros por muito tempo obscurecida exige a revisão ainda que mal
delineada de pontos fundamentais. Apesar de tudo que é dito sobre suas
heresias, é certo que o catarismo não tinha um corpo de doutrinas vindo de
fora. Ela nasceu no interior da Igreja e reivindicava uma identidade plenamente
cristã, procurando fundamentar-se exclusivamente em textos bíblicos. Mesmo se
considerando cristãos, os cátaros retiravam de Cristo sua qualidade de
redentor. Negavam a encarnação de Jesus e a realidade da Paixão. Ainda assim,
eles consideravam Cristo o autor da revelação de Deus, e que ensinara aos
homens como viver segundo a vontade do Pai Eterno.
Os
cátaros acreditavam na salvação pela ação pessoal, e que cada indivíduo era
responsável por sua própria salvação através de seus atos. Isso implicava a
salvação sem restrições (todos teriam a salvação, tudo dependia de suas ações),
e na crença de que na relação com Deus, o homem não necessitava de
intermediários; todos os homens teriam o direito e a capacidade de vivenciar
uma experiência de êxtase espiritual. O que, na doutrina ortodoxa católica era
conseguido apenas pela intermediação dos sacerdotes da Igreja.
Criam
numa escatologia otimista, onde não havia julgamento, nem inferno, pois o além
era tão somente perfeição.
O
catarismo deveu sua expansão à vida exemplar de seu clero que formava uma
igreja bem menos hierarquizada do que seus adversários. Os cátaros ofereciam
uma abordagem direta, pessoal e ativa da Palavra de Deus, enunciada e comentada
em língua vernacular, desenvolvia uma liturgia simples, celebrada em pequenos
grupos, que aproximava os sacerdotes (os chamados bons homens) e os crentes. No
nível cotidiano, o catarismo era um conjunto de práticas simples de devoção e
uma disciplina de vida.
Suas
características fundamentais são suficientes para compreender por que o
catarismo atingia quase que exclusivamente as camadas superiores da sociedade,
ou ao menos as pessoas cuja situação existencial e cultural levavam a um
mal-estar espiritual para o que a Igreja não tinha resposta. Em geral seus
adeptos pertenciam a uma pequena aristocracia e às elites urbanas do saber e da
riqueza. O catarismo não era um fator de transformação social. A sociabilidade
cátara conjugava intimamente estruturas que eram anteriores a ela e a modulavam,
as da família e das redes familiares em particular, ela não transcendia as
divisões da sociedade, mantinha as hierarquias tradicionais nas quais as
mulheres tinham uma posição enfaticamente subordinada.
J. DIAS
Fontes:
História da Igreja Cristã – Vida
Revista História Viva/ Idade Média – Duetto
Cristianismo Através dos Tempos - Vida Nova
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