O PERÍODO INTERBIBLICO
OS 400 ANOS DE SILÊNCIO
A
Expressão “400 anos de silêncio”, frequentemente empregada para descrever o
período entre os últimos eventos do Antigo Testamento e o começo dos
acontecimentos do Novo Testamento não é correta nem apropriada. Embora nenhum
profeta inspirado tivesse se erguido em Israel durante aquele período, e o Antigo
Testamento já estivesse completo aos olhos dos judeus, certos acontecimentos
ocorreram que deram ao judaísmo posterior sua ideologia própria e,
providencialmente, prepararam o caminho para a vinda de Cristo e a proclamação
do Seu Evangelho.
A
SUPREMACIA PERSA
Por
cerca de um século depois da época de Neemias, o império Persa exerceu controle
sobre a Judéia. O período foi relativamente tranquilo, pois os persas permitiam
aos judeus o livre exercício de suas instituições religiosas. A Judéia era
dirigida pelo sumo sacerdote, que prestava contas ao governo persa, fato que,
ao mesmo tempo, permitiu aos judeus uma boa medida de autonomia e rebaixou o
sacerdócio a uma função política. Inveja, intriga e até mesmo assassinatos
tiveram seu papel nas disputas pela honra de ocupar o sumo sacerdócio.
A Pérsia e o Egito envolveram-se em constantes conflitos durante este período, e a Judéia, situada entre os dois impérios, não podia escapar ao envolvimento. Durante o reino de Artaxerxes III muitos judeus engajaram-se numa rebelião contra a Pérsia. Foram deportados para Babilônia e para as margens do mar Cáspio.
ALEXANDRE
O GRANDE
Após à vitória
sobre os exércitos persas na Ásia Menor (333 AC), Alexandre marchou para a
Síria e Palestina. Depois de ferrenha resistência, Tiro foi conquistada e
Alexandre deslocou-se pra o sul, em direção ao Egito. Diz a lenda que quando
Alexandre se aproximava de Jerusalém o sumo sacerdote Jadua foi ao seu encontro
e lhe mostrou as profecias de Daniel, segundo as quais o exército grego seria
vitorioso (Dn 8). Essa narrativa não é levada a sério pelos historiadores, mas
é fato que Alexandre tratou singularmente bem aos judeus. Ele lhes permitiu
observarem suas leis, isentou-os de impostos durante os anos sabáticos e,
quando construiu Alexandria no Egito (331 AC), estimulou os judeus a se
estabelecerem ali e deu-lhes privilégios comparáveis aos seus súditos gregos.
OS
PTOLOMEUS
Depois
da morte de Alexandre (323 AC), a Judéia, ficou sujeita, por algum tempo a
Antígono, um dos generais de Alexandre que controlava parte da Ásia Menor.
Subsequentemente, caiu sob o controle de outro general, Ptolomeu I (que havia
então dominado o Egito), cognominado Soter, o Libertador, o qual capturou
Jerusalém num dia de sábado em 320 AC. Ptolomeu foi bondoso para com os judeus.
Muitos deles se radicaram em Alexandria, que continuou a ser um importante
centro da cultura e pensamento judaicos por vários séculos. No governo de
Ptolomeu II (Filadelfo) os judeus de Alexandria começaram a traduzir a sua Lei,
i.e., o Pentateuco, para o grego. Esta tradução seria posteriormente conhecida
como a Septuaginta.
OS
SELÊUCIDAS
Depois
de aproximadamente um século de vida dos judeus sob o domínio dos Ptolomeus,
Antíoco III (o Grande) da Síria conquistou a Síria e a Palestina (198 AC). Os
governantes sírios eram chamados selêucidas porque seu reino, construído sobre
os escombros do império de Alexandre, fora fundado por Seleuco I (Nicator).
Durante os primeiros anos de domínio sírio, os selêucidas permitiram que o sumo sacerdote continuasse a governar os judeus de acordo com suas leis. Todavia, surgiram conflitos entre o partido helenista e os judeus ortodoxos. Antíoco IV (Epifânio) aliou-se ao partido helenista e indicou para o sacerdócio um homem que mudara seu nome de Josué para Jasom e que estimulava o culto a Hércules de Tiro. Jasom, todavia, foi substituído depois de dois anos por um rebelde chamado Menaém (cujo nome grego era Menelau). Quando partidários de Jasom entraram em luta com os de Menelau, Antíoco marchou contra Jerusalém, saqueou o templo e matou muitos judeus (170 AC). As liberdades civis e religiosas foram suspensas, os sacrifícios diários foram proibidos e um altar a Júpiter foi erigido sobre o altar do holocausto. Cópias das Escrituras foram queimadas e os judeus foram forçadas a comer carne de porco, o que era proibido pela Lei de Moisés. Uma porca foi oferecida sobre ao altar do holocausto para ofender ainda mais a consciência religiosa dos judeus.
OS MACABEUS
Não
demorou muito para que os judeus oprimidos encontrassem um líder para sua
causa. Quando os emissários de Antíoco chegaram à vila de Modina, cerca de 24
quilômetros a oeste de Jerusalém, esperavam que o velho sacerdote, Matatias,
desse bom exemplo perante o seu povo, oferecendo um sacrifício pagão. Ele,
porém, além de recusar-se a fazê-lo, matou um judeu apóstata junto ao altar
onde o oficial sírio que presidia a cerimonia. Matatias fugiu para a
região montanhosa da Judéia e, com a ajuda de seus filhos, empreendeu uma luta
de guerrilhas contra os sírios. Embora os velho sacerdote não tenha vivido para
ver seu povo liberto do jugo sírio, deixou a seus filhos o término da tarefa.
Judas, cognominado “o Macabeu”, assumiu a liderança depois da morte do pai. Por
volta de 164 a.C. Judas havia reconquistado Jerusalém, purificado o templo e
reinstituído os sacrifícios diários. Pouco depois das vitórias de Judas,
Antíoco morreu na Pérsia. Entretanto, as lutas entre os Macabeus e os reis
selêucidas continuaram por quase vinte anos.
Aristóbulo I foi o primeiro dos governantes Macabeus a assumir o título de “Rei dos Judeus”. Depois de um breve reinado, foi substituído pelo tirânico Alexandre Janeu, que, por sua vez, deixou o reino para sua mãe, Alexandra. O reinado de Alexandra foi relativamente pacífico. Com a sua morte, um filho mais novo, Aristóbulo II, desapossou seu irmão mais velho. Roma entrou em cena e Pompeu marchou sobre a Judéia com as suas legiões, buscando um acerto entre as partes e o melhor interesse de Roma. Aristóbulo II tentou defender Jerusalém do ataque de Pompeu, mas os romanos tomaram a cidade e penetraram até o Santo dos Santos. Pompeu, todavia, não tocou nos tesouros do templo.
OS
ROMANOS
Depois
do assassinato de Júlio Cesar e da morte de Antípater (pai de Herodes), que por
vinte anos fora o verdadeiro governante da Judéia, Antígono, o segundo filho de
Aristóbulo, tentou apossar-se do trono. Por algum tempo chegou a reinar em
Jerusalém, mas Herodes, filho de Antípater, regressou de Roma e tornou-se rei
dos judeus com apoio de Roma. Seu casamento com Mariamne, neta de
Hircano, o último sacerdote da linhagem de Levi, ofereceu um elo com
os governantes Macabeus.
Herodes
não instituiu sumos sacerdotes da antiga raça levítica, mas preferiu colocar
no sacerdócio homens de sua confiança.
Herodes foi um dos mais cruéis governantes de todos os tempos. Assassinou o venerável Hircano (31 AC) e mandou matar sua própria esposa Mariamne e seus dois filhos. No seu leito de morte, ordenou a execução de Antípater, seu filho com outra esposa. Nas Escrituras, Herodes é conhecido como o rei que ordenou a morte dos meninos em Belém por temer o Rival que nascera para ser Rei dos Judeus.
GRUPOS
RELIGIOSOS JUDEUS
Quando,
seguindo-se à conquista de Alexandre, o helenismo mudou a mentalidade do
Oriente Médio, alguns judeus se apegaram ainda mais tenazmente do que antes à
fé de seus pais, ao passo que outros se dispuseram a adaptar seu pensamento às
novas idéias que emanavam da Grécia. Por fim, o choque entre o helenismo e o
judaísmo deu origem a diversas seitas judaicas.
Os
Fariseus
Os
fariseus eram os descendentes espirituais dos judeus piedosos que haviam lutado
contra os helenistas no tempo dos Macabeus. O nome fariseu “separatista”, foi provavelmente dado a
eles por seu inimigos, para indicar que eram não-conformistas. Pode, todavia,
ter sido usado com escárnio porque sua severidade os separava de seus
compatriotas judeus, tanto quanto de seus vizinhos pagãos. A lealdade à verdade
às vezes produz orgulho e até mesmo hipocrisia, e foram essas perversões do
antigo ideal farisaico que Jesus denunciou. Paulo se considerava um membro
deste grupo ortodoxo do judaísmo de sua época. (Fp 3.5).
Saduceus
O
partido dos saduceus, provavelmente denominado assim por causa de Zadoque, o
sumo sacerdote escolhido por Salomão (1Rs 2.35), negava autoridade à tradição e
olhava com suspeita para qualquer revelação posterior à Lei de Moisés. Eles
negavam a doutrina da ressurreição, e não criam na existência de anjos ou
espíritos (At 23.3). Eram, em sua maioria, gente de posses e posição, e
cooperavam de bom grado com os helenistas da época. Ao tempo do Novo Testamento
controlavam o sacerdócio e o ritual do templo. A sinagoga, por outro lado, era
a cidadela dos fariseus.
Essênios
O
essenismo foi uma reação ascética ao externalismo dos fariseus e ao mundanismo
dos sauduceus. Os essênios se retiravam da sociedade e viviam em ascetismo e
celibato. Davam atenção à leitura e estudo das Escrituras, à oração e às
lavagens cerimoniais. Suas posses eram comuns e eram conhecidos por sua
laboriosidade e piedade. Tanto a guerra quanto a escravidão era contrárias a
seus princípios.
O mosteiro em Qumran, próximo às cavernas em que os Manuscritos do Mar Morto foram encontrados, é considerado por muitos estudiosos como um centro essênio de estudo no deserto da Judéia. Os rolos indicam que os membros da comunidade haviam abandonado as influências corruptas das cidades judaicas para prepararem no deserto, “o caminho do Senhor”. Tinham fé no Messias que viria e consideravam-se o verdadeiro Israel para quem Ele viria.
Escribas
Os
escribas não eram, estritamente falando uma seita, mas sim, membros de uma
profissão. Eram, em primeiro lugar copistas da Lei. Vieram a ser considerados
autoridades quanto às Escrituras, e por isso exerciam uma função de ensino. Sua
linha de pensamento era semelhante à dos fariseus, com os quais aparecem
freqüentemente associados no Novo Testamento.
Herodianos
Os
herodianos criam que os melhores interesses do judaísmo estavam na cooperação
com os romanos. Seu nome foi tirado de Herodes, o Grande, que procurou
romanizar a Palestina em sua época. Os herodianos eram mais um partido político
que uma seita religiosa.
A
opressão política romana, simbolizada por Herodes, e as reações religiosas
expressas nas reações sectárias dentro do judaísmo pré-cristão forneceram o
referencial histórico no qual Jesus veio ao mundo. Frustrações e conflitos
prepararam Israel para o advento do Messias de Deus, que veio na “plenitude do
tempo” (Gl 4.4)
Adaptado
de “From Malachi to Matthew”, de Charles F. Pfeiffer.
Transcrito de “A Bíblia Anotada”
Transcrito de “A Bíblia Anotada”
www.santovivo.net
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