MATÉRIA 10 - BIBLIOLOGIA: A DOUTRINA DA BIBLIA
I. REVELAÇÃO: É a operação divina
que comunica ao homem fatos que a razão humana é insuficiente para conhecer. É
portanto, a operação divina que comunica a verdade de Deus ao homem (ICo.2:10).
A) Provas da Revelação: O diabo
foi o primeiro ser a pôr em dúvida a existência da revelação: "É assim que
Deus disse?" (Gn.3:1). Mas a Bíblia é a Palavra de Deus. Vejamos alguns
argumentos:
1) A Indestrutibilidade da
Bíblia: Uma porcentagem muito pequena de livros sobrevive além de um quarto de
século, e uma porcentagem ainda menor dura um século, e uma porção quase
insignificante dura mil anos. A Bíblia, porém, tem sobrevivido em
circunstâncias adversas. Em 303 A.D. o imperador Dioclécio decretou que todos
os exemplares da Bíblia fossem queimados. A Bíblia é hoje encontrada em mais de
mil línguas e ainda é o livro mais lido do mundo.
2) A Natureza da Bíblia:
a) Ela é superior: Ela é superior
a qualquer outro livro do mundo. O mundo, com sua sabedoria e vasto acúmulo de
conhecimento nunca foi capaz de produzir um livro que chegue perto de se
comparar a Bíblia.
b) É um livro honesto: Pois
revela fatos sobre a corrupção humana, fatos que a natureza humana teria
interesse em acobertar.
c) É um livro harmonioso: Pois
embora tenha sido escrito por uns quarenta autores diferentes, por um período
de 1.600 anos, ela revela ser um livro único que expressa um só sistema
doutrinário e um só padrão moral, coerentes e sem contradições.
3) A Influência da Bíblia: O
Alcorão, o Livro dos Mórmons, o Zenda Avesta, os Clássicos de Confúncio, todos
tiveram influência no mundo. Estes, porém, conduziram a uma idéia apagada de
Deus e do pecado, ao ponto de ignorá-los. A Bíblia, porém, tem produzido altos
resultados em todas as esferas da vida: na arte, na arquitetura, na literatura,
na música, na política, na ciência etc.
4) Argumento da Analogia: Os
animais inferiores expressam com suas vozes seus diferentes sentimentos. Entre
os racionais existe uma presença correspondente, existe comunicação direta de
um para o outro, uma revelação de pensamentos e sentimentos. Conseqüentemente é
de se esperar que exista, por analogia da natureza, uma revelação direta de
Deus para com o homem. Sendo o homem criado à Sua imagem, é natural supor que o
Criador sustente relação pessoal com Suas criaturas racionais.
5) Argumento da Experiência: O
homem é incapaz por sua própria força descobrir que:
a) Precisa ser salvo.
b) Pode ser salvo.
c) Como pode ser salvo.
d) Se há salvação.
Somente a revelação pode
desvendar estes mistérios eternos. A experiência do homem tem demonstrado que a
tendência da natureza humana é degenerar-se e seu caminho ascendente se sustêm
unicamente quando é voltado para cima em comunicação direta com a revelação de
Deus.
6) Argumento da Profecia
Cumprida: Muitas profecias a respeito de Cristo se cumpriram integralmente,
sendo que a mais próxima do primeiro advento, foi pronunciada 165 anos antes de
seu cumprimento. As profecias a respeito da dispersão de Israel também, se
cumpriram (Dt.28; Jr.15:4;l6:13; Os.3:4 etc); da conquista de Samaria e
preservação de Judá (Is.7:6-8; Os.1:6,7; IRs.14:15); do cativeiro babilônico
sobre Judá e Jerusalém (Is.39:6; Jr.25:9-12); sobre a destruição final de
Samaria (Mq.1:6-9); sobre a restauração de Jerusalém (Jr.29:10-14), etc.
7) Reivindicações da Própria
Escritura: A própria Bíblia expressa sua infalibilidade, reivindicando
autoridade. Nenhum outro livro ousa fazê-lo. Encontramos essa reivindicação na
seguintes expressões: "Disse o Senhor a Moisés"
(Ex.14:1,15,26;16:4;25:1; Lv.1:1;4:1;11:1; Nm.4:1;13:1; Dt.32:48) "O
Senhor é quem fala" (Is.1:2); "Disse o Senhor a Isaías"
(Is.7:3); "Assim diz o Senhor" (Is.43:1). Outras expressões
semelhantes são encontradas: "Palavra que veio a Jeremias da parte do
Senhor" (Jr.11:1); "Veio expressamente a Palavra do Senhor a
Ezequiel" (Ez.1:3); "Palavra do Senhor que foi dirigida a
Oséias" (Os.1:1); "Palavra do Senhor que foi dirigida a Joel"
(Jl.1:1), etc. Expressões como estas são encontradas mais de 3.800 vezes no
Velho Testamento. Portanto o A.T. afirma ser a revelação de Deus, e essa mesma
reivindicação faz o Novo Testamento (ICo.14:37; ITs.2:13; IJo.5:10; IIPe.3:2).
B) Natureza da Revelação: Deus se
revelou de sete modos:
1) Através da Natureza:
(Sl.19:1-6; Rm.l:19-23).
2) Através da Providência: A
providência é a execução do programa de Deus das dispensações em todos os seus
detalhes (Gn.48:15;50:20; Rm.8:28; Sm.57:2; Jr.30:11; Is.54:17).
3) Através da Preservação:
(Cl.1:17; Hb.1:3; At.17:25,28).
4) Através de Milagres:
(Ex.4:1-9).
5) Através da Comunicação Direta:
(Nm.12:8; Dt.34:10).
6) Através da Encarnação:
(Hb.1:1; Jo.8:26;15:15).
7) Através das Escrituras: A
Bíblia é a revelação escrita de Deus e, como tal, abrange importantes aspectos:
a) Ela é variada: Variada em seus
temas, pois abrange aquilo que é doutrinário , devocional, histórico, profético
e prático.
b) Ela é parcial: (Dt.29:29).
c) Ela é completa: Naquilo que já
foi revelado (Cl.2:9,10);
d) Ela é progressiva: (Mc.4:28).
e) Ela é definitiva: (Jd.3).
II. INSPIRAÇÃO: É a operação
divina que influenciou os escritores bíblicos, capacitando-os a receber a
mensagem divina, e que os moveu a transcrevê-la com exatidão, impedindo-os de
cometerem erros e omissões, de modo que ela recebeu autoridade divina e
infalível, garantindo a exata transferência da verdade revelada de Deus para a
linguagem humana inteligível (ICo.10:13; IITm.3:16; IIPe.1:20,21).
A) Autoria Dual: Com este termo
indicamos dois fatos:
1) Autoria Divina: Do lado divino
as Escrituras são a Palavra de Deus no sentido de que se originaram nEle e são
a expressão de Sua mente. Em IITm.3:16 encontramos a referência a Deus:
"Toda Escritura é divinamente inspirada" (theopneustos = soprada ou
expirada por Deus) . A referência aqui é ao escrito.
2) Autoria Humana: Do lado humano
certos homens foram escolhidos por Deus para a responsabilidade de receber a
Palavra e passá-la para a forma escrita. Em IIPe.1:21 encontramos a referência
aos homens: "Homens santos de Deus falaram movidos pelo Espírito
Santo" (pherô = movidos ou conduzidos). A referência aqui é ao escritor.
B) Inspiração ou Expiração? A
palavra inspiração vem do latim, e significa respirar para dentro. Ela é usada
pela ARC. (Almeida Revista e Corrigida) somente duas vezes no N.T. (IITm.3:16;
IIPe.1:21). Este vocábulo, embora consagrado pelo uso, e, portanto, pela
teologia, não é um termo adequado, pois pode parecer que Deus tenha soprado
alguma espécie de vida divina em palavras humanas. Em IITm.3:16 encontramos o
vocábulo grego theopneustos que significa soprado por Deus. Portanto podemos
afirmar que toda a Escritura é soprada ou expirada por Deus, e não inspirada
como expressa a ARC. As Escrituras são o próprio sopro de Deus, é o próprio
Deus falando (IISm.23:2). Em IIPe.1:21 este vocábulo se torna mais inadequado
ainda, pois a tradução da ARC. transmite a idéia de que os homens santos foram
inspirados pelo Espírito Santo. O fato é que o homem não é inspirado, mas a
Palavra de Deus é que é expirada (Compare Jó.32:8; 33:4; com Ez.36:27; 37:9). A
ARA. (Almeida Revista e Atualizada), porém, apesar de utilizar o termo
inspiração em IITm.3:16, usa, com acerto, o verbo mover em IIPe.1:21, como
tradução do vocábulo grego pherô, que significa exatamente mover ou conduzir.
Considerada esta ressalva, não
devemos pender para o extremo, excluindo a autoria humana da compilação das
Escrituras. Ela própria reconhece a autoria dual no registro bíblico. Em
Mt.15:4 está escrito que Deus ordenou enquanto que em Mc.7:10 diz que foi
Moisés quem ordenou. E muitas outras passagens há semelhantes a esta (Compare
Sl.110:1 com Mc.12:36; Ex.3:6,15 com Mt.22:31; Lc.20:37 com Mc.12:26;
Is.6:9,10; At.28:25 com Jo.12:39-41; Mt.1:22;2:15; At.l:16;4:25; Hb.3:7-11;
Hb.9:8;10:15) Deus opera de modo misterioso usando e não anulando a vontade
humana, sem que o homem perceba que está sendo divinamente conduzido, sendo que
neste fenômeno, o homem faz pleno uso de sua liberdade (Pv.16:1;19:21;
Sl.33:15;105:25; Ap.17:17). Desse mesmo modo Deus também usa Satanás (Compare ICr.21:1
com IISm.24:1; IRs.22:20-23), mas não retira a responsabilidade do homem
(At.5:3,4), como também o faz na obra da salvação (Dt.30:19; Sl.65:4; Jo.6:44).
C) O Termo Logos: Este termo
grego foi utilizado no N.T. cerca de 200 vezes para indicar a Palavra de Deus
Escrita, e 7 vezes para indicar o Filho de Deus (Jo.1:1,14; IJo.1:1;5:7;
Ap.19:13). Eles são para Deus o que a expressão é para o pensamento e o que a
fala é para a razão, portanto o Logos de Deus é a expressão de Deus, quer seja
na forma escrita ou viva (Compare Jo.14:6 com Jo.17:17).
1) Cristo é a Palavra Viva:
Cristo é o Logos, isto é, a fala, a expressão de Deus.
2) A Bíblia é a Palavra Escrita:
A Bíblia também é o Logos de Deus, e assim como em Cristo há dois elementos
(duas naturezas), divino e humano, igualmente na Palavra de Deus estes dois
elementos aparecem unidos sobrenaturalmente.
D) Provas da Inspiração: Somos
acusados de provar a inspiração pela Bíblia e de provar a verdade da Bíblia
pela inspiração, e, assim, de argumentar num círculo vicioso. Mas o processo
parte de uma prova que todos aceitam: a evidência. Esta, primeiro prova a
veracidade ou credibilidade da testemunha, e então aceita o seu testemunho. A
veracidade das Escrituras é estabelecida de vários modos, e, tendo constatado a
sua veracidade, ou a validade do seu testemunho, bem podemos aceitar o que elas
dizem de si mesmas. As Escrituras afirmam que são inspiradas, e elas ou devem
ser cridas neste particular ou rejeitadas em tudo mais.
1) O A.T. afirma sua Inspiração:
(Dt.4:2,5; IISm.23:2; Is.1:10; Jr.1:2,9; Ez.3:1,4; Os.1:1; Jl.l:1; Am.1:3;3:1;
Ob.1:1; Mq.1:1).
2) O N.T. afirma sua Inspiração:
(Mt.10:19; Jo.14:26;15:26,27; Jo.16:13; At.2:33;15:28; ITs.1:5; ICo.2:13;
IICo.13:3; IIPe.3:16; ITs.2:13; ICo.14:37).
3) O N.T. afirma a Inspiração do
A.T.: (Lc.1:70; At.4:25; Hb.1:1, IItm.3:16; IPe.1:11; IIPe.1:21).
4) A Bíblia faz declarações
científicas descobertas posteriormente: (Jó.26:7; Sl.135:7; Ec.1:7; Is.40:22).
E) Teorias da Inspiração: Podemos
ter revelação sem inspiração (Ap.10:3,4), e podemos ter inspiração sem
revelação, como quando os escritores registram o que viram com seus próprios
olhos e descobriram pela pesquisa (IJo.1:1-4; Lc.1:1-4). Aqui nós temos a forma
e o resultado da inspiração. A forma é o método que Deus empregou na
inspiração, enquanto que o resultado indica a conseqüência da inspiração.
Portanto, as chamadas teorias da intuição, da iluminação, a dinâmica e a do
ditado, todas descrevem a forma de inspiração, enquanto que a teoria verbal plenária
indica o resultado.
1) Teoria da Inspiração Dinâmica:
Afirma que Deus forneceu a capacidade necessária para a confiável transmissão
da verdade que os escritores das Escrituras receberam ordem de comunicar. Isto
os tornou infalíveis em questões de fé e prática, mas não nas coisas que não
são de natureza imediatamente religiosa, isto é, a inspiração atinge apenas os
ensinamentos e preceitos doutrinários, as verdades desconhecidas dos autores
humanos. Esta teoria tem muitas falhas: Ela não explica como os escritores
bíblicos poderiam mesclar seus conhecimentos sobrenaturais ao registrarem uma
sentença, e serem rebaixados a um nível inferior ao relatarem um fato de modo
natural. Ela não fornece a psicologia daquele estado de espírito que deveria
envolver os escritores bíblicos ao se pronunciarem infalivelmente sobre
matérias de doutrina, enquanto se desviam a respeito dos fatos mais simples da
história. Ela não analisa a relação existente entre as mentes divina e humana,
que produz tais resultados. Ela não distingue entre coisas que são essenciais à
fé e à pratica e àquelas que não são. Erasmo, Grotius, Baxter, Paley,
Doellinger e Strong compartilham desta teoria.
2) Teoria do Ditado ou Mecânica:
Afirma que os escritores bíblicos foram meros instrumentos (amanuenses), não
seres cujas personalidades foram preservadas. Se Deus tivesse ditado as
Escrituras, o seu estilo seria uniforme. Teria a dicção e o vocabulário do
divino Autor, livre das idiossincrasias dos homens (Rm.9:1-3; IIPe.3:15,16). Na
verdade o autor humano recebeu plena liberdade de ação para a sua autoria,
escrevendo com seus próprios sentimentos, estilo e vocabulário, mas garantiu a
exatidão da mensagem suprema com tanta perfeição como se ela tivesse sido
ditada por Deus. Não há nenhuma insinuação de que Deus tenha ditado qualquer
mensagem a um homem além daquela que Moisés transcreveu no monte santo, pois
Deus usa e não anula as suas vontades. Esta teoria, portanto, enfatiza
sobremaneira a autoria divina ao ponto de excluir a autoria humana.
3) Teoria da Inspiração Natural
ou Intuição: Afirma que a inspiração é simplesmente um discernimento superior
das verdades moral e religiosa por parte do homem natural. Assim como tem
havido artistas, músicos e poetas excepcionais, que produziram obras de arte
que nunca foram superadas, também em relação as Escrituras houve homens
excepcionais com visão espiritual que, por causa de seus dons naturais, foram
capazes de escrever as Escrituras. Esta é a noção mais baixa de inspiração,
pois enfatiza a autoria humana a ponto de excluir a autoria divina. Esta teoria
foi defendida pelos pelagianos e unitarianos.
4) Teoria da Inspiração Mística
ou Iluminação: Afirma que inspiração é simplesmente uma intensificação e
elevação das percepções religiosas do crente. Cada crente tem sua iluminação
até certo ponto, mas alguns tem mais do que outros. Se esta teoria fosse
verdadeira, qualquer cristão em qualquer tempo, através da energia divina
especial, poderia escrever as Escrituras. Schleiermacher foi quem disseminou esta
teoria. Para ele inspiração é "um despertamento e excitamento da
consciência religiosa, diferente em grau e não em espécie da inspiração piedosa
ou sentimentos intuitivos dos homens santos". Lutero, Neander, Tholuck,
Cremer, F.W.Robertson, J.F.Clarke e G.T.Ladd defendiam esta teoria, segundo
Strong.
5) Inspiração dos Conceitos e não
das Palavras: Esta teoria pressupõe pensamentos à parte das palavras, através
da qual Deus teria transmitido idéias mas deixou o autor humano livre para
expressá-las em sua própria linguagem. Mas idéias não são transferíveis por
nenhum outro modo além das palavras. Esta teoria ignora a importância das
palavras em qualquer mensagem. Muitas passagens bíblicas dependem de uma das
palavras usadas para a sua força e valor. O estudo exegético das Escrituras nas
línguas originais é um estudo de palavras, para que o conceito possa ser
alcançado através das palavras, e não para que palavras sem importância
representem um conceito. A Bíblia sempre enfatiza suas palavras e não um simples
conceito (ICo.2:13; Jo.6:63;17:8; Ex.20:1; Gl.3:16).
6) Graus de Inspiração: Afirma
que há inspiração em três graus. Sugestão, direção, elevação, superintendência,
orientação e revelação direta, são palavras usadas para classificar estes
graus. Esta teoria alega que algumas partes da Bíblia são mais inspiradas do
que outras. Embora ela reconheça as duas autorias, dá margem a especulação
fantasiosa.
7) Inspiração Verbal Plenária: É
o poder inexplicado do Espírito Santo agindo sobre os escritores das Sagradas
Escrituras, para orientá-los (conduzi-los) na transcrição do registro bíblico,
quer seja através de observações pessoais, fontes orais ou verbais, ou através
de revelação divina direta, preservando-os de erros e omissões, abrangendo as
palavras em gênero, número, tempo, modo e voz, preservando, desse modo, a
inerrância das Escrituras, e dando à ela autoridade divina.
a) Observação Pessoal:
(IJo.1:1-4).
b) Fonte Oral: (Lc.l:1-4).
c) Fonte Verbal: (At.17:18;
Tt.1:12; Hb.1:1).
d) Revelação Divina Direta: (
Ap.1:1-ll; Gl.1:12).
e) Gênero: (Gn.3:15).
f) Número: (Gl.3:16).
g) Tempo: (Ef.4:30; Cl.3:13).
h) Modo: (Ef.4:30; Cl.3:13).
i) Voz: (Ef.5:18)
j) Explicação dos itens
e,f,g,h,i: A inspiração verbal plenária fica assim estabelecida. Em Gn.3:15 o
pronome hebraico está no gênero masculino, pois se refere exclusivamente a
Cristo (Ele te ferirá a cabeça...). Em Gl.3:16 Paulo faz citação de um
substantivo hebraico que está no singular, fazendo, também, referência
exclusiva a Cristo. Em Ef.4:30 e Cl.3:13 o verbo perdoar encontra-se, no grego,
no modo particípio e no tempo presente, o que significa que o perdão judicial
de Deus realizado no passado, quando aceitamos a Cristo, estende-se por toda a
nossa vida, abrangendo o perdão dos pecados do passado, do presente, e do
futuro (IJo.1:9 trata do perdão do pecado doméstico e não do judicial). Jesus
Cristo reconheceu a inspiração verbal plenária quando declarou que nem um til
(a menor letra do alfabeto hebraico) seria omitido da lei(Mt.5:18 e Lc.16:l7).
C) O Termo Logos - Este termo grego foi utilizado no N.T.
cerca de 200 vezes para indicar a Palavra de Deus Escrita, e 7 vezes para
indicar o Filho de Deus (Jo.1:1,14; IJo.1:1;5:7; Ap.19:13). Eles são para Deus
o que a expressão é para o pensamento e o que a fala é para a razão, portanto o
Logos de Deus é a expressão de Deus, quer seja na forma escrita ou viva
(Compare Jo.14:6 com Jo.17:17).
1) Cristo é a Palavra Viva: Cristo é o
Logos, isto é, a fala, a expressão de Deus.
2) A Bíblia é a Palavra Escrita: A Bíblia também é o
Logos de Deus, e assim como em Cristo há dois elementos (duas naturezas),
divino e humano, igualmente na Palavra de Deus estes dois elementos aparecem
unidos sobrenaturalmente.
III. ILUMINAÇÃO: É a influência
ou ministério do Espírito Santo que capacita todos os que estão num
relacionamento correto com Deus para entender as Escrituras (I Cor.2:12;
Lc.24:32,45; IJo.2:27).
A iluminação não inclui a
responsabilidade de acrescentar algo às Escrituras (revelação) e nem inclui uma
transmissão infalível na linguagem (inspiração) daquele que o Espírito Santo
ensina.
A iluminação é diferenciada da
revelação e da inspiração no fato de ser prometida a todos os crentes, pois não
depende de escolha soberana, mas de ajustamento pessoal ao Espírito Santo. Além
disso a iluminação admite graus podendo aumentar ou diminuir (Ef.1:16-18; 4:23;
Cl.1:9).
A iluminação não se limita a
questões comuns, mas pode atingir as coisas profundas de Deus (ICo.2:10) porque
o Mestre Divino está no coração do crente e, portanto, ele não houve uma voz
falando de fora e em determinados momentos, mas a mente e o coração são
sobrenaturalmente despertados de dentro (ICo.2:16). Este despertamento do
Espírito pode ser prejudicado pelo pecado, pois é dito que o cristão que é espiritual
discerne todas as coisas (ICo.2:15), ao passo que aquele que é carnal não pode
receber as verdades mais profundas de Deus que são comparadas ao alimento
sólido (ICo.2:15;3:1-3; Hb.5:12-14).
A iluminação, a inspiração e a
revelação estão estritamente ligadas, porém podem ser independentes, pois há
inspiração sem revelação (Lc.1:1-3; IJo.1:1-4); inspiração com revelação
(Ap.1:1-11); inspiração sem iluminação (IPe.1:10-12); iluminação sem inspiração
(Ef.1:18) e sem revelação (ICo.2:12; Jd.3); revelação sem iluminação
(IPe.1:10-12) e sem inspiração (Ap.10:3,4; Ex.20:1-22). E’ digno de nota que
encontramos estes três ministérios do Espírito Santo mencionados em uma só
passagem (ICo.2:9-13); a revelação no versículo 10; a iluminação no versículo
12 e a inspiração no versículo 13.
IV. AUTORIDADE: Dizemos que a
bíblia é um livro que tem autoridade porque ela tem influência, prestígio e
credibilidade (quanto a pureza na transcrição ou tradução), por isso deve ser
obedecida porque procede de fonte infalível e autorizada.
A autoridade está vinculada a
inspiração, canonicidade e credibilidade, sem os quais a autoridade da Bíblia
não se estabeleceria. Assim, por ser inspirado, determinado trecho bíblico
possui autoridade; por ser canônico, determinado livro bíblico possui
autoridade, e por ter credibilidade, determinadas informações bíblicas possuem
autoridade, sejam históricas, geográficas ou científicas.
Entretanto, nem tudo aquilo que é
inspirado é autorizado, pois a autoridade de um livro trata de sua procedência,
de sua autoria, e, portanto, de sua veracidade. Deus é o Autor da Bíblia, e
como tal ela possui autoridade, mas nem tudo que está registrado na Bíblia
procedeu da boca de Deus. Por exemplo, o que Satanás disse para Eva foi
registrado por inspiração, mas não é a verdade (Gn.3:4,5); o conselho que Pedro
deu a Cristo (Mt.16:22); as acusações que Elifaz fez contra Jó (Jó.22:5-11),
etc. Nenhuma dessas declarações representam o pensamento de Deus ou procedem
dEle (procedem apenas por inspiração), e por isso não têm autoridade. Um texto
também perde sua autoridade quando é retirado de seu contexto e lhe é atribuído
um significado totalmente diferente daquele que tem quando inserido no
contexto. As palavras ainda são inspiradas, mas o novo significado não tem
autoridade.
VI. INERRÂNCIA OU INFALIBILIDADE:
Inerrância significa que a verdade é transmitida em palavras que, entendidas no
sentido em que foram empregadas, entendidas no sentido que realmente se
destinavam a ter, não expressam erro algum.
A inspiração garante a inerrância
da Bíblia. Inerrância não significa que os escritores não tinham faltas na
vida, mas que foram preservados de erros os seus ensinos. Eles podem ter tido
concepções errôneas acerca de muitas coisas, mas não as ensinaram; por exemplo,
quanto à terra, às estrelas, às leis naturais, à geografia, à vida política e
social etc.
Também não significa que não se
possa interpretar erroneamente o texto ou que ele não possa ser mal
compreendido.
A inerrância não nega a
flexibilidade da linguagem como veículo de comunicação. É muitas vezes difícil
transmitir com exatidão um pensamento por causa desta flexibilidade de
linguagem ou por causa de possível variação no sentido das palavras.
A Bíblia vem de Deus. Será que
Deus nos deu um livro de instrução religiosa repleto de erros? Se ele possui
erros sob a forma de uma pretensa revelação, perpetua os erros e as trevas que
professa remover. Pode-se admitir que um Deus Santo adicione a sanção do seu
nome a algo que não seja a expressão exata da verdade?.
Diz-se que a Bíblia é
parcialmente verdadeira e parcialmente falsa. Se é parcialmente falsa, como se
explica que Deus tenha posto o seu selo sobre toda ela? Se ela é parcialmente
verdadeira e parcialmente falsa, então a vida e a morte estão a depender de um
processo de separação entre o certo e o errado, que o homem não pode realizar.
Cristo declara que a
incredulidade é ofensa digna de castigo. Isto implica na veracidade daquilo que
tem de ser crido, porque Deus não pode castigar o homem por descrer no que não
é verdadeiro (Sl.119:140,142; Mt.5:18; Jo.10:35; Jo.17:17). Aqueles que negam a
infalibilidade da Bíblia, geralmente estão prontos a confiar na falibilidade de
suas próprias opiniões. Como exemplo de opinião falível encontramos aqueles que
atribuem erro à passagem de IRs.7:23 onde lemos que o mar de fundição tinha dez
côvados de diâmetro de uma borda até a outra, ao passo que um cordão de trinta
côvados o cingia em redor. Sendo assim, tem-se dito que a Bíblia faz o valor do
Pi ser 3 em vez de 3,1416. Mas uma vez que não sabemos se a linha em redor era
na extremidade da borda ou debaixo da mesma, como parece sugerir o versículo
seguinte (v.24) não podemos chegar a uma conclusão definitiva, e devemos ser
cautelosos ao atribuir erro ao escritor.
Outro exemplo utilizado para
contrariar a inerrância da Bíblia, encontra-se em ICo.10:8 onde lemos que
23.000 homens morreram no deserto, enquanto que Nm.25:9 diz que morreram
24.000. Acontece que em Números nós temos o número total dos mortos, ao passo
que em I aos Coríntios nós temos o número parcial que somado ao restante dos
homens relacionados nos versículos 9 e 10, deverá contabilizar o total de
24.000.
A inerrância não abrange as
cópias dos manuscritos, mas atinge somente os autógrafos, isto é, os originais.
Desse modo encontramos os seguintes tipos de erros nos manuscritos:
A) Erros Involuntários: Cometidos
pelos escribas do N.T. devido a sua falta ou defeito de visão, defeitos de
audição ou falhas mentais.
1) Falhas de Visão: Em Rm.6:5
muitos manuscritos (MSS) tem ama (juntos), mas há alguns que trazem alla
(porém). Os dois lambdas juntos deram ao copista a idéia de um mi. Em At.15:40
onde há eplexamenoc (tendo escolhido) aparece no Códice Beza epdexamenoc (tendo
recebido) onde o lambda maiúsculo é confundido com um delta maiúsculo.
Há também confusão de sílabas,
como é o caso de ITm.3:16 onde o manuscrito D traz homologoumen ôs (nós
confessamos que) em vez de homologoumenôs (sem dúvida).
O erro visual chamado parablopse
(um olhar ao lado) é facilitado pelo homoioteleuton, que é o final igual de
duas linhas, levando o escriba a saltar uma delas, ou pelo homoioarchon, que
são duas linhas com o mesmo início.
O Códice Vaticano, em Jo.17:15,
não contém as palavras entre parênteses: "Não rogo que os tires do (mundo,
mas que os guardes do) maligno". Consultando o N.T. grego veremos que as
duas linhas terminavam de maneira idêntica, em autos ek tou, no manuscrito que
o escriba de B copiava.
Lc.18:39 não aparece nos
manuscritos 33, 57, 103 e b, devido a um final de frase igual na sentença
anterior no manuscrito do qual eles se derivam.
O Códice Laudiano tem um exemplo
no versículo 4 do Capítulo 2 do livro de Atos: "Et repleti sunt et repleti
sunt omnes spiritu sancto", sendo este em caso de adição, chamado ditografia,
que é a repetição de uma letra, sílaba ou palavras.
2) Falhas de Audição: Era costume
muitos escribas se reunirem numa sala enquanto um leitor lhes ditava o texto
sagrado. Desse modo o ouvido traía o escriba até mesmo quando o copista
solitário ditava a si próprio. Em Rm.5:1 encontramos um destes casos, onde as
variantes echômen e echomen foram confundidas. IPe.2:3 também apresenta um caso
semelhante com as variantes cristos (Cristo) e crestos (gentil), esta última
encontrada nos manuscritos K e L.
No grego coinê as vogais e
ditongos pronunciavam-se de modo igual dentro das respectivas classes. É o caso
de ICo.15:54 onde o termo nikos (vitória), foi confundido por neikos
(conflito), sendo que aparece em P46 e B como "tragada foi a morte no
conflito".
Em Ap.15:6 onde se lê
"vestidos de linho puro" a palavra grega linon é substituída por
lithon nos manuscritos A e C "vestidos de pedra pura". Desse modo uma
só letra que o ouvido menos apurado não entendeu direito e que produziu completa
mudança de sentido, torna-se erro grosseiro e hilariante.
3) Falhas da Mente: Quando a
mente do escriba o traía, chegava a cometer erros que variavam desde a
substituição de sinônimos, como o caso da preposição ek por apo, até a
transposição de letras dentro de uma palavra, como o caso de Jo.5:39, onde
Jesus disse "porque elas dão testemunho de mim" (ai marturousai) e o
escriba do manuscrito D escreveu "porque elas pecam a respeito de
mim" (hamartanousai).
B) Erros Intencionais: Erros que
não se originaram de negligência ou distração dos escribas, mas antes de
suspeita de alteração, principalmente doutrinária.
1) Harmonização: Ao copiar os
sinópticos, o escriba era levado a harmonizar passagens paralelas. E’ o caso de
Mt.12:13 onde se lê "...estende a tua mão. E ele estendeu; e ela foi
restaurada como a outra". Em alguns manuscritos de Marcos o texto pára em
"restaurada", sendo que em outros o escriba acrescentou as palavras
"como a outra" para harmonizá-lo com Mateus.
Outro tipo de harmonização ocorre
quando os escribas faziam o texto do N.T. conformar-se com o A.T. Por exemplo,
em Mc.1:1 os escribas do W e Bizantinos mudaram "no profeta Isaias"
para "nos profetas" porque verificaram que a citação não é só de
Isaias.
2) Correções Doutrinárias: Certo
escriba, copiando Mt.24:36 omitiu as palavras "nem o Filho", pois o
escriba sabia que Jesus era onisciente, e deduziu que alguém havia cometido
erro (Alefe, W, Bizantino).
Os manuscritos da Velha Latina e
da Versão Gótica apresentam como acréscimo, em Lc.1:3, a frase "e ao
Espírito Santo" como "empréstimo" de At.15:28.
3) Correções Exegéticas:
Passagens de difícil interpretação eram alvo dos escribas que tentavam
completar o seu sentido através de interpolação e supressões.
Um caso de interpolação
encontra-se em Mt.26:15 onde as palavras "trinta moedas de prata"
foram alteradas para "trinta estateres" nos MSS D, a e b, afim de
definir o tipo de moeda mencionada. Mais tarde outros escribas (dos manuscritos
1, 209 e h) que conheciam os dois textos, juntaram-no produzindo a frase
"trinta estateres de prata".
4) Acréscimos Naturais ou de
Notas Marginais: Determinado leitor do Códice 1518 anotou nas margens de Tg.1:5
a expressão êgeumatikês kai ouk anthrôpines (espiritual e não humana). Quando
este Códice foi copiado, o escriba do manuscritos 603 incluiu esta expressão no
texto: "Se alguém de vós tem falta de sabedoria espiritual e não humana,
peça-a a Deus...".
XI. INTERPRETAÇÃO: É a elucidação
ou explicação do sentido das palavras ou frases de um texto, para torná-los
compreensivos.
A ciência da interpretação é
designada hermenêutica, e, em razão de sua abrangência, requer um estudo
especial separado da Bibliologia.
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