Desceu
Cristo ao Inferno?
As várias interpretações
1) Interpretação arminiana - Defende que os contemporâneos de Noé não
tiveram nenhum redentor e nenhum guia. Portanto, Deus teve de lhes suprir
esta deficiência e, assim, por fim, o Senhor ressuscitado lhes trouxe a
salvação. Para eles, a rejeição do Evangelho no passado não foi uma rejeição
final e definitiva.
Mas, será que a morte não coloca um fim no período em que Deus opera com Sua graça para salvar pecadores? Será que existe neste texto de Pedro o ensino de uma nova oportunidade para os ímpios se salvarem, mesmo depois de sua morte? A grande dificuldade é que os santos do Antigo Testamento já haviam crido no Messias e, por isso, estavam justificados, Rm 4: 3; Gl 3: 6-9.
2) Interpretação luterana diz que Cristo morreu e, antes de ser
ressuscitado, teve seu espírito restituído ao corpo e, na totalidade de sua
natureza humana, foi ao inferno e proclamou sua vitória a Satanás. Mas, essa
interpretação traz dificuldade porque não havia tido ainda nenhuma
manifestação de vitória de Cristo.
3) Interpretação anglicana ensina que a alma de Cristo desceu ao inferno
para conquistar a morte e o diabo (tomar as chaves) e para libertar as almas
dos homens justos e bons, que desde a queda de Adão morreram por causa de
Deus e na fé e na crença em Jesus, que estava para vir. Sua conquista
destruiu qualquer reivindicação que o diabo tinha sobre os homens, e a
descida foi parte do "resgate" pago por Cristo.
Mas, as Escrituras não ensinam que os crentes do Antigo Testamento foram para o Hades e que Jesus lá desceu para libertá-los. Esses crentes foram estar com Deus após a sua morte, Sl 73: 23-24. Enquanto Cristo estava na terra, Elias e Moisés já estavam com Deus no céu, e não no Hades, 2Rs 2: 11; Lc 9: 29-32.
Análise bíblica de 1Pedro
3: 18-20
1) Qual o significado das expressões
"carne" e "espírito vivificado"?
Neste texto, Pedro está contrastando dois estados de existência de nosso Redentor.
a) O estado de limitação de
Cristo.
"Na carne": este estado é a natureza humana de Cristo, 1Pe
4: 1; 1 Jo 4: 2; 2Jo 7; Jo 1: 14; 1Tm 3: 16, Rm 1: 3-4. A expressão
"morto na carne" faz referência quando Jesus morreu e saiu do
estado de fraqueza e de limitação.
b) O estado de
não-limitação
"Espírito vivificado". A expressão "vivificado no
espírito" se refere à natureza divina de Jesus. Seu estado antes de sua
encarnação. E foi neste estado que Ele pregou aos "espíritos em
prisão".
Quando o texto fala que Jesus "vivificado em espírito foi e pregou, não está se referindo a um lugar depois de sua morte, mas onde Ele estava quando havia desobedientes dos tempos de Noé" (v. 20). Foi neste espírito que Ele pregou através dos profetas. A palavra "também" do v. 19 mostra a ênfase do estado de limitação para o estado de não-limitação. Dito de outra forma: Cristo pregou quando estava em nosso meio, como homem (dias de Sua carne), mas também pregou como Divino (não-limitação) nos dias de Noé através dos profetas.
2) Quando Cristo pregou?
O ensino desta passagem não é o que Cristo fez entre a morte e a
ressurreição, mas o que Ele fez no seu estado antes da Encarnação - estado
não-limitado, no tempo de Noé, 1Pe 1: 8-12.
3) Qual o conteúdo da
pregação? O que Cristo pregou?
Jesus pregou o evangelho aos contemporâneos de Noé. Espiritualmente,
Cristo estava presente em Noé quando este era o "pregoeiro da
justiça", 2Pe 2: 5. Em 1Pe 1: 10-11, o apóstolo mostra o evangelho sendo
pregado pelos profetas. Noé certamente pregou aos seus contemporâneos o
evangelho e convocou-os ao arrependimento.
4) Quem são estes
"espíritos em prisão" a quem Cristo pregou?
A expressão "espíritos em prisão" se refere às pessoas que
no tempo de Noé (noutro tempo) rejeitaram a sua pregação e que foram
consideradas "espíritos em prisão", incapazes de fazer qualquer
coisa que os deixassem livres. Permaneceram no cativeiro espiritual;
permaneceram incrédulos quanto à mensagem pregada por Noé e na prisão de suas
almas.
Concluímos, portanto,
afirmando que:
1) Não aceitamos: uma descida literal de Cristo ao Inferno; que o
diabo possuía as "chaves" da morte e do inferno, que Jesus as tomou
dele; uma segunda chance de salvação aos desobedientes após sua morte.
2) Aceitamos: que Cristo esteve sempre presente tipologicamente no Antigo Testamento, pregando através dos profetas o Evangelho de Salvação, Rm 4: 3; Gl 16-9, 2Pe 2: 5.
Fontes bibliográficas
1) Revista Fides Reformata, vol. IV, nº 1, 1999.
2) Revista Os Puritanos, nº 1, ano IX, 2001. |
sexta-feira, 16 de março de 2012
Desceu Cristo ao Inferno?
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