quinta-feira, 1 de março de 2012

REFORMA DA IGREJA – OS ANABATISTAS


REFORMA DA IGREJA – OS ANABATISTAS
J. DIAS

Os Anabatistas era um grupo de cristãos que se levantaram contra algumas doutrinas da Igreja Católica. Entre as principais doutrinas, estava a do batismo infantil. Por considerar o batismo infantil sem qualquer base bíblica, os Anabatistas batizavam os convertidos que tivessem idade adulta. O nome "anabatista" surgiu por causa do costume de "rebatizar" os seus seguidores.

Os anabatistas surgiram primeiro na Suíça em função da liberdade que existia nesse país. Nem o feudalismo nem o papado tinham sido capazes de estabelecer o domínio nessa terra de intrépidos soldados mercenários. A insistência de Zuinglio em ver a Escritura como fundamento da ação dos pregadores encorajou a formação de conceitos anabatistas baseados na Bíblia.

Alguns discípulos mais ardorosos de Zuinglio desiludiram-se com a lentidão das reformas na cidade e passaram a atuar como dissidentes. O conselho (Câmara dos Representantes do Povo) de Zurique declarou que a doutrina romana da missa era infundada, mas decidiu adiar sua reforma de imediato. Zuinglio concordou com essa decisão, acreditando que o povo de Zurique tinha de ser mais plenamente preparado para as mudanças. Os dissidentes não podiam aceitar tais medidas contemporizadoras.

Um dos representantes dos dissidentes era Conrad Grebel, que pode ser considerado como o fundador do anabatismo. Membro de uma família influente da nobreza recebeu uma excelente educação nas universidades de Viena e Paris. Depois de sua conversão em 1522, trabalhou ao lado de Zuinglio até romper com ele em 1525.

A atenção dos dissidentes voltou-se para um sacramento que não havia sido reformado na cidade, o batismo. Conrad Grebel, entre outros, recusou-se a submeter seu filho ao batismo, pois não encontrava no Novo Testamento justificativa para o batismo infantil. A ruptura decisiva com a ordenança oficial do batismo infantil ocorreu em 21 de janeiro de 1525, na casa de Felix Mantz, outro dos seguidores descontentes de Zuinglio. Naquela noite, após um período de oração, George Blaurock, um futuro evangelista anabatista, pediu a Grebel que o batizasse. Depois os outros presentes, igualmente quiseram ser batizados e Grebel batizou a todos, sendo depois o próprio Grebel batizado por Felix Mantz.

Quase da noite para o dia, surgiu um convento anabatista na vila de Zurique, a apenas 6 quilômetros da cidade. Seguiram-se outros batismos em Zurique e nos arredores. O batismo era negado a crianças recém-nascidas, os sermões dos pastores oficiais eram interrompidos pelos pregadores anabatistas, as fontes batismais, derrubadas e destruídas e as congregações separatistas de cristãos rebatizados reuniam-se em desafio à lei. Muitos anabatistas agiam com violência contra a igreja oficial.

O conselho da cidade considerou tais distúrbios um desafio direto à sua autoridade. Para encerrar a crise foi decretado a morte por afogamento para quem fosse rebatizado. Em 5 de janeiro de 1527, Felix Mantz tornou-se o primeiro anabatista a ser afogado em Zurique. Enquanto Zuinglio e os outros pastores oficiais observavam, Mantz foi forçado a imergir nas águas geladas do rio Limmat. As últimas palavras que se ouviu dele foram “Em tuas mãos, ó Senhor, entrego o meu espírito”.

Zuinglio desistiu da sua primitiva concepção da falta de fundamento bíblico para o batismo infantil visto que com isso muitas pessoas perderiam sua cidadania garantida pelo batismo na infância. Os anabatistas mais radicais que se opunham ao controle da religião pelo Estado estavam pondo em perigo os esforços de Zuinglio de convencer as autoridades conservadoras ainda indecisas a passarem para o lado da Reforma. De início, Zuinglio usava a técnica do debate para persuadir os anabatistas a mudarem de ideia, mas quando o método falhou, o conselho adotou medidas mais drásticas, como multas e exílio. O movimento praticamente não mais existia em Zurique em 1535 devido aos tratamentos cruéis, e com isso os cristãos humildes que eram ligados ao grupo anabatista fugiram para outras regiões onde sonhavam encontrar segurança.

ANABATISTAS NA ÁUSTRIA
Balthasar Hubmaier foi um dos primeiros anabatistas na Áustria. De excelente formação, era doutor em teologia pela Universidade de Ingolstadt, onde foi aluno de Johann Eck, adversário de Lutero. Seu pastorado em Waldshut, perto da fronteira Suíça, permitiu-lhe um contato com os radicais suíços cujas ideias adotou. Ele e mais 300 seguidores foram batizados em 1525, pelo que teve de fugir para Zurique a fim de escapar das autoridades austríacas. De Zurique fugiu para a Morávia, onde assumiu a liderança dos anabatistas que haviam fugido de Zurique com medo das perseguições de Zuinglio. Na Morávia havia também milhares de pessoas convertidas ao anabatismo, todos aceitaram a liderança de Balthasar. Por ordem do imperador, Balthasar Hubmaier foi queimado numa estaca em 1528, e sua esposa foi afogada no rio Danúbio pelas autoridades católicas romanas. Em todo seu ministério como líder anabatista, ensinou a separação entre Igreja e Estado, a autoridade da Bíblia e o batismo dos convertidos ao cristianismo.

A CONFUSÃO DOUTRINÁRIA DOS LÍDERES ANABATISTAS
Os anabatistas não se caracterizavam nem pela homogeneidade doutrinária, nem pela eficiência organizacional. Vários líderes deixaram sua marca pessoal no movimento. Hans Hut profetizou que Jesus Cristo voltaria a terra no domingo de Pentecostes de 1528.  Ele começou a reunir os 144 mil santos eleitos, os quais ele “selou”, marcando-os na testa com o sinal da cruz. Ele morreu antes de 1528. Após sua morte seus seguidores se dividiram, mas sua mensagem apocalíptica foi assumida pelo novo líder Melchior Hofmann, que estabeleceu uma nova data para a vinda de Jesus, 1534.

Com os esforços evangelizadores de Hofmann, o anabatismo chegou aos Países Baixos. Em 1530, ele batizou cerca de 300 convertidos na cidade de Emden, e também constituiu pregadores leigos para levar a mensagem anabatista a todos os lugares dos Países Baixos. Convencido de que era o Elias, uma das testemunhas narradas em Apocalipse 11, Hofmann foi para Estrasburgo, onde ele considerava que seria a Nova Jerusalém e apresentou-se as autoridades para ser preso, e esperar a vinda de Cristo. Permaneceu na prisão até a morte, cerca de dez anos depois, pateticamente esperando o fim do mundo.

Quando Hofmann foi preso em Estrasburgo, no ano de 1533, um de seus discípulos, um padeiro de Haarlem chamado Jan Mathijs, declarou-se profeta enviado pelo Espírito Santo. Como Hofmann era Elias, ele era Enoque, a segunda das duas testemunhas profetizadas em Apocalipse 11. Ele passou a ordenar 12 apóstolos, entre eles Jan Beuckels, de Leyden. Todos aqueles que recusassem o batismo deviam ser mortos. Quando Mathijs morreu, no Domingo de Páscoa de 1534, Jan de Beuckels assumiu a liderança. Ele coroou a si mesmo “rei da justiça sobre todos”.

Reconsiderando as profecias, Jan disse que a Nova Jerusalém não seria em Estrasburgo e sim em Münster. Por isso o grupo mudou-se para essa cidade onde continuaram batizando os adultos. Foi introduzida a poligamia numa imitação literal dos patriarcas do Velho Testamento. Mas o real motivo da instituição desta pratica foi motivada por causa do grande número de mulheres viúvas no grupo.

As práticas do batismo adulto e a poligamia causavam preocupação para as igrejas católica e protestante e eram também uma clara desobediência as leis do Estado. Jan Beuckels e seus seguidores foram cercados na cidade de Münster por tropas protestantes e católicas que haviam se unido contra os anabatistas. Quando a luta terminou quase todos os anabatistas haviam sido mortos, apenas uns poucos conseguiram fugir. Jan e dois de seus companheiros foram capturados vivos e torturados até a morte com ferros em brasa, no dia 22 de janeiro de 1536. Os corpos foram expostos em jaulas de ferro na torre da igreja de Saint Lambert, na rua principal da cidade de Münster. Essas jaulas podem ser vistas ainda hoje, lembrança sinistra da tragédia de 1534-1536.

Por causa dos problemas causados pelos anabatistas em Münster, a causa dos Reformistas ficou desacreditada na cidade. Em 1532 o conselho da cidade havia autorizado o uso dos púlpitos oficiais pelos ministros luteranos. Após os acontecimentos Imperador ordenou que todos os seguidores de Lutero fossem expulsos da cidade.

MENNO SIMONS
A destruição do movimento anabatista pelas atrocidades acontecidas em Münster foi evitada pelo surgimento da sadia liderança de Menno Simons na Holanda.

Menno nasceu em 1496 na Holanda. Foi ordenado ao sacerdócio católico em março de 1524, aos 28 anos. Como Lutero, Zuinglio e Calvino, Menno teve de debater-se com o Evangelho. Como os outros reformadores Menno também passou a contestar a eucaristia, e em 1525 confessou ter dúvidas quanto ao dogma da transubstanciação. Mesmo assim Menno poderia ter continuado na Igreja Romana se não tivesse começado a questionar mais uma tradição da igreja, o batismo infantil. Começou então a investigar o fundamento do batismo infantil. Ele examinou os argumentos de Lutero, Zuinglio e outros reformadores, mas achou que em todos faltava algo. Consultou os escritos dos Pais da Igreja e por fim pesquisou com toda atenção e afinco as Escrituras e não encontrou nada que abonasse o batismo de crianças. Chegou à conclusão de que todos estavam equivocados quanto ao batismo infantil. Ele começou a pregar a partir da Bíblia contra o batismo de inocentes crianças. Com novas convicções sobre a ceia do Senhor e o batismo, abandonou o sacerdócio na Igreja Romana em 1536.

Aproximadamente um ano depois de ter deixado o sacerdócio romano para tornar-se evangelista itinerante, alguns irmãos anabatistas que viviam perto da cidade de Griningen pediram-lhe que aceitasse o oficio de ancião ou pastor titular da irmandade. Depois de algum tempo considerando a aceitação ou não do convite ele começou a ensinar e batizar adultos.

Menno foi ordenado de maneira adequada e batizado por Obbe Phillips, o primeiro líder dos anabatistas holandeses. Alguns anos depois de ter ordenado Menno, Obbe Phillips desiludiu-se com as divisões no movimento anabatista e abandonou completamente a irmandade. Seu irmão Dirk Phillips continuou firme na fé e tornou-se grande colaborador de Menno nas mudanças operadas na teologia anabatista. Foi um trabalho árduo, mas que mostrou uma nova cara do anabatismo. As controvérsias e “loucuras” cometidas pelos antigos líderes foram totalmente apagadas. Agora o movimento tinha como base apenas os ensinamentos bíblicos não “misturado” com as profecias da liderança, como era anteriormente.

De sua ordenação, em 1537, até sua morte em 1561, Menno exerceu influência marcante nos anabatistas dos Países Baixos e da Alemanha. Durante a maior parte desses anos ele foi perseguido e acusado de herege, mas continuou pregando em lugares secretos e batizando novos cristãos em córregos, rios e lagos, abrindo igrejas e ordenando pastores, de Amsterdã a Colônia. Um exame dos perigos que Menno enfrentou cousa surpresa saber que ele morreu de morte natural.

Em 1542, o Imperador Carlos V da Holanda, publicou um edito contra ele e ofereceu uma rica recompensa em ouro a quem o colocasse na prisão.

Menno disse em seu leito de morte que nada na terra lhe era tão precioso como a Igreja. Durante 25 anos ele trabalhou de um extremo ao outro dos Países Baixos e da Alemanha a fim de transformar comunidades cristãs em congregações organizadas e comprometidas umas com as outras com a missão de evangelizar o mundo. Mediante o trabalho de Menno e de seus cooperadores, o anabatismo holandês recuperou-se de suas desilusões em Münster, tornando-se a mais duradoura manifestação cristã da reforma radical.

Grande parte dos escritos de Menno foram dedicados à exposição do caráter da igreja verdadeira contra as falsas igrejas anticristãs legalmente reconhecidas e sustentadas pelo Estado.

Menno referia-se aos católicos, aos luteranos e aos zuinglianos como “as facções grandes e confortáveis”. Eles partilhavam um aspecto em comum, dizia: “É costume de todas as facções que se encontram longe de Cristo e de sua Palavra tornar válidas suas posições, sua fé e sua conduta usando a espada”. Menno e os anabatistas negavam a legitimidade do corpus chrsitianum, pela qual a igreja e a sociedade formavam uma unidade orgânica, sendo a religião envolvida pelo poder decisivo do Estado na “conversão” de novos adeptos. Essa atitude era verdadeiramente revolucionária no século XVI, levando a represálias violentas contra os anabatistas. Com muita frequência, eram os líderes das igrejas oficiais que instigavam as autoridades a perseguirem os reformadores radicais.

OS ANABATISTAS MORÁVIOS
Um padrão comunitário baseado na Igreja Primitiva narrada em Atos dos Apóstolos foi desenvolvida por grupos de refugiados na Morávia, guiados por Jacó Hutter. A perseguição comandada pela Igreja oficial os atingiu levando-os para a Hungria e a Ucrânia e depois de 1874, para Dakota do Sul nos Estados Unidos e a província canadense de Manitoba, e para o Paraguai, onde ainda hoje praticam um comunismo agrário voluntário. Eles são conhecidos como Hutteritas.

CONCLUSÃO
É difícil sistematizar as crenças anabatistas, porque houve muitos grupos diferentes em suas doutrinas, como resultado da crença natural da convicção de que o crente tem o direito de interpretar a Bíblia como autoridade literal e final de sua fé. Mesmo assim há algumas doutrinas em que todos os anabatistas, e atuais menonitas estão de acordo: A autoridade da Bíblia como regra final de fé e prática; que a verdadeira igreja é uma associação dos regenerados e não uma igreja oficial de que participam até os não convertidos. Defendiam a total separação entre Igreja e Estado. Praticavam o batismo dos convertidos por imersão.

Os anabatistas exerceram atração especial sobre os artesãos e camponeses, não alcançados pelos outros reformadores. Esse fato, relacionado à tendência natural à interpretação literal da Bíblia pelas pessoas iletradas, levou-os a excessos místicos, mas também a uma visão mais realista dos ensinamentos de Jesus e dos apóstolos.

Nem os Menonitas nem os Batistas devem se envergonhar de colocá-los como seus predecessores espirituais. Seu conceito de Igreja influenciou os Puritanos Separatistas, Batistas e Quacres.



FONTES:
O Cristianismo Através dos Séculos, Earle e. Cairns – Vida Nova
Teologia dos Reformadores, Timothy George – Vida Nova



                  





























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