A IGREJA
EVANGÉLICA E A DITADURA MILITAR DE 1964
*J.
Dias
O GOLPE MILITAR
Em
1964, os militares deram um golpe de estado depondo o então presidente João
Goulart. Este golpe aconteceu no dia 31 de março de 1964.
De
1964 a 1985, o Brasil viveu um dos períodos mais negros de sua historia. A
democracia foi abolida o estado de direito deixou de existir. Qualquer cidadão
podia ter seu lar invadido pelas tropas do exército, para isto bastava uma
denuncia sem qualquer tipo de comprovação.
O
assassinato de pessoas por órgãos militares virou rotina, a tortura aos
presos passou a ser algo normal. O total de desaparecidos durante os anos de
ditadura, até hoje não foi revelado, o certo é que muitas famílias viram seus
entes queridos serem presos por motivos fúteis e nunca mais voltarem para casa.
Muitas jovens mulheres foram violentadas nos porões da repressão militar só por
serem filhas de acusados de traidores do regime. Muitos pais confessaram crimes
jamais cometidos apenas para não verem seus filhos serem torturados.
É triste
ouvir pessoas dizendo: “tempos bons eram os tempos da ditadura”. São pessoas
totalmente desinformadas, que só sabiam o que o governo permitia que fosse
divulgado. A imprensa em geral viva amordaçada, sem poder publicar
noticias que divulgassem a maldade e os atos criminosos dos militares.
A
IGREJA EVANGÉLICA DURANTE A DITADURA
O
31 de março de 1964 marcou mais do que uma reviravolta nos rumos do país. Foi
também um momento crucial para a Igreja Evangélica no Brasil. O mesmo golpe que
tirou do poder o presidente João Goulart, afetou também os púlpitos. Sobretudo
aqueles onde o pregador tinha coragem de defender a cidadania e a liberdade de
expressão. Muitos pastores foram presos, crentes torturados e até desaparecidos
nos porões da ditadura. Quem era evangélico e tinha atuação
política ou comunitária nos anos pós-64 tem lembranças amargas.
O
Departamento de Mocidade da Confederação Evangélica do Brasil (CEB) foi à
primeira entidade de orientação evangélica a sofrer a perseguição do regime.
Foi fechada sem direito de defesa. As igrejas Presbiteriana, Luterana,
Metodista, Assembléia de Deus e Congregacional, promoveram eventos que ficaram
célebres como a Conferência do Nordeste, em Recife - Pe, com o tema “Cristo e o
processo revolucionário”. Foi a primeira vez que os cristãos e os marxistas se
encontraram para discutir a relação da igreja com a realidade social e cultura
brasileira. Um dos preletores foi o sociólogo Gilberto Freyre. A conferência do
Recife reuniu 160 delegados de 16 denominações evangélicas. Houve uma grande
repercussão em todo Brasil. A Igreja estava em busca de uma identidade
nacional, foi um período rico na busca de um caminho, a igreja brasileira
refletia os mesmos movimentos da sociedade.
Quando
o golpe se intensificou e as perseguições começaram a apertar o cerco sobre as
igrejas, o movimento da Conferencia do Recife se desfez. Para os militares os
inimigos estavam em todos os lugares, inclusive nas igrejas. A Faculdade
Metodista Rudge Ramos em São Paulo foi fechada por ordem do governo militar em
1967, depois que os formandos escolheram D. Helder Câmara, bispo de Olinda e
Recife e inimigo declarado dos “fardados”, como paraninfo da turma.
Naquela
época os jovens evangélicos eram politizados, preocupados com o país. A
ideologia era ensinada também na escola Dominical de algumas igrejas. O templo da Igreja
Metodista Central de São Paulo foi cercado pela policia e muitos jovens saíram
presos. O pastor da Igreja Batista em Volta Redonda no Rio de Janeiro, Geraldo
Marcelo, foi preso três vezes como agente da subversão, chegando a ficar 43
dias em poder dos militares. Hoje ele conta que superou os traumas e
relembra os cultos que realizava na cadeia: “cinco companheiros se converteram
e um deles hoje é pastor”. O pastor Geraldo conta que sofria torturas diárias,
pensou em suicídio para não entregar os irmãos na fé. “Eu pensava em me matar.
A pressão era muito grande. Só que eu era forte, precisava de cinco ou seis
agentes para me torturar”, conta ainda comovido com as lembranças. “Foi pela
ação de Deus que eu não morri, eu me sentia como Jesus, querendo passar de mim
aquele cálice”.
Neste
tempo o número de evangélicos no pais era na ordem de 4,5% da população. Então
porque uma comunidade tão pequena incomodava tanto o regime? As ações da
repressão militar mostram que o pequeno grupo causava incômodo. A explicação é
simples: num pais que tinha 39% de analfabetos, os evangélicos eram uma elite
pensante, exercia influencia política e era percebido socialmente. Nem todos os
crentes no entanto faziam parte deste grupo, a igreja em geral se comportou
muito mal, o medo das mudanças reforçou o conservadorismo, e muitas igrejas
cediam seus púlpitos para propaganda a favor do regime militar.
CONCLUSÃO
Hoje,
depois de poucos anos passados, a maioria do povo não sabe o que realmente
acontecia com os considerados inimigos dos militares, não sabem que muitos
pastores foram presos e torturados. Por isso se ouve alguns irmãos elogiando os
tempos da ditadura.
Durante
os vinte e um anos em que durou a ditadura, nosso país sofreu um atraso em
muitas áreas, principalmente a de informática e tecnologia. Muitos cientistas
foram “convidados” a deixarem o Brasil, isto nos causou prejuízos até hoje não
recuperado. Por isso ainda somos dependentes externos em varias áreas da
informática e tecnologia.
Então
procure se informar mais sobre a historia recente de seu país, só assim você
saberá que muitos dos que elogiam os militares não sabem do que estão falando.
* Editor do Site
FONTE: Revista Eclésia
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