O Titanic e a Predestinação
Homens de todas as tribos sempre gostaram de construir colossos, prédios,
pontes, torres, arranha-céus, monumentos cada vez maiores. Sejam quais forem
os objetivos, essas construções representam sinais exteriores de riqueza e
poder, produto do orgulho e da vaidade. A primeira materialização desse
desejo nato ocorreu com a construção da Torre de Babel, com o que pretendiam
chegar aos céus. Deus não permitiu essa afronta.
Torre de
Babel
“E
disseram [os descendentes de Noé] uns aos outros: Edifiquemos uma cidade e
uma torre cujo cume toque nos céus e façamo-nos um nome, para que não sejamos
espalhados sobre a face de toda a terra” (Gênesis 11.4).
Desejavam construir uma cidade-império, dominadora, poderosa, única: uma só
língua, um só governo. Mas Deus não quis que o mundo ficasse sob a direção de
um só homem, ou de uma elite. Ainda hoje nações econômica e militarmente
poderosas esforçam-se por exercer domínio sobre o resto do mundo. A intenção
de Deus é que haja equilíbrio de forças, equilíbrio nas economias, na
distribuição de rendas, com oportunidades para todos. Há alguns anos havia
duas potências mundiais, duas torres de Babel, dirigindo os destinos da
humanidade: a antiga União soviética e os Estados Unidos. A primeira,
desmantelou-se, fragmentou-se o temível império em várias nações
independentes e autônomas, com suas bandeiras, hinos, cultura, governos. A
segunda, os Estados Unidos da América, tem pago um preço altíssimo por sua
supremacia política, econômica e militar.
O Colosso de
Rhodes
A começar pelas Sete Maravilhas do Mundo Antigo, destacamos “O
Colossos de Rhodes”, em bronze com base de mármore branco, na Ilha de
Rhodes, Grécia, com 46 metros de altura. Concluída em 282 a.C., após doze
anos de trabalho, a gigante estátua foi destruída juntamente com a cidade,
por um forte terremoto, em 226 a.C.
Estátua de
Zeus
A majestosa “Estátua de Zeus”, “deus dos deuses”, com
quinze metros, feita de marfim e ébano com incrustações de ouro e pedras
preciosas, em cuja homenagem os Jogos Olímpicos da Antiguidade eram
festejados. Localizava-se no Templo de Olímpia, na Grécia. A obra foi
concluída em 447 a.C. e destruída por um incêndio 922 anos mais tarde.
O Farol de
Alexandria
Monumento dedicado aos deuses salvadores Ptolomeu Soter e sua esposa
Berenice. Servia de auxílio aos navegantes. Inaugurado em 270 a.C., na antiga
ilha de Faros, agora um promontório na cidade de Alexandria no Egito. Durou
1.750 anos. Seriamente danificado por terremotos, foi finalmente destruído em
1.480. Esse farol era útil aos navegantes.
Templo de
Ártemis (Diana)
Esse templo, em homenagem à deusa dos bosques (Ártemis), localizava-se na
cidade grega de Efésio, na Turquia; foi concluído no ano de 550 a.C. e levou
120 anos para ficar completamente pronto. A sua altura é desconhecida, mas
tinha 80 metros de largura e 130 metros de profundidade. A escultura da deusa
Ártemis era em ébano, ouro, prata e pedra preta. Durou 194 anos, até ser
destruído pelos godos.
Túmulo de
Mausoléu
Com 50 metros de altura, construído em mármore e bronze por Artemísia, viúva
de Mausolo, em Halicarnasso, Caria, hoje Turquia. A construção durou dez anos
e nela trabalharam 30.000 homens. Provavelmente, destruído por um terremoto entre
os séculos XI e XV.
Pirâmides do
Egito
Sepulturas dos faraós construídas há mais de 40 séculos na Planície de Gizé,
a 15 km do Cairo, capital do Egito. As mais célebres são as de Quéops
(137,2m), Quéfrem (136,5m) e Mikerinos (66m), nomes de três reis (pai filho e
neto). Das sete maravilhas da antiguidade somente as pirâmides do Egito ainda
existem, apesar dos estragos causados pela ação do tempo. Serviram de
sepultura dos faraós, que acreditavam poder subir até os seus deuses, no céu,
se seus corpos fossem assim sepultados. As pirâmides continuam sendo objeto
de estudos, pois abrigam muitos mistérios.
Jardins
Suspensos da Babilônia
Segundo uma das versões, os Jardins foram construídos em 605 a.C. por
Nabucodonosor II em homenagem a sua mulher, Amitis, no sul do Iraque. Outra
versão diz que foram construídos por Semíramis. Na verdade, eram seis
montanhas artificiais, no sul do Rio Eufrates, 50 km ao sul da atual Bagdá,
Capital do Iraque. Nos terraços, construídos com trabalho escravo, foram
plantadas palmeiras e flores tropicais, para deleite de seus proprietários.
Hoje, não existe qualquer vestígio desses jardins.
Os homens continuaram dando expansão aos seus desejos de mostrar ao mundo sinais de riqueza, poderio militar e econômico. Na era da modernidade, destacam-se os arranha-céus, as grandes estruturas. Algumas dessas obras são apreciadas pelo bom gosto de seus idealizadores, pela beleza de suas formas; outras, apenas por suas gigantescas proporções. Algumas, necessárias; outras, como na Antiguidade, apenas um bem supérfluo, sem nenhuma utilidade prática. Vejamos algumas dessas obras dos tempos modernos.
Torre Eifell
A Torre Eifell de Paris, conhecida como “A Dama de Ferro”, 10.100
toneladas, 320 metros de altura, incluindo a antena, duas vezes mais alta do
que a grande pirâmide do Egito, foi construída em alguns meses, em 1889, e
consumiu 15.000 barras de ferro. Seu nome é uma homenagem ao engenheiro civil
francês Gustave Alexandre Eifell, projetista e construtor da obra.
O Muro de
Berlim
A construção do Muro de Berlim, de 155 quilômetros, que separava Berlim
Ocidental de Berlim Oriental, iniciou-se em 13 de agosto de 1961, e começou a
ser derrubado a partir de 9 de novembro de l989, quando pela primeira vez, em
28 anos, os cidadãos da antiga União Soviética puderam visitar seus irmãos do
lado ocidental e democrático. A queda do Muro, símbolo da guerra fria e da
divisão do mundo em duas potências antagônicas, marcou a falência do sistema
comunista soviético. Dados revelam que durante a existência do “Muro
da Vergonha”, como ficou conhecido, 75.000 alemães foram presos, e 809
mortos durante tentativa de atravessar na direção oriente-ocidente.
Empire State
Building
Com 381 metros de altura. Em 1950 foi colocada na estrutura uma antena de
televisão de 67 metros, fazendo com que a altura total do edifício atingisse
448 metros. O Empire State continuou sendo o prédio mais alto do mundo até
1971, quando foi terminada a primeira torre do World Trade Center, também em
Nova York. Com a destruição das torres gêmeas, em 11 de setembro de 2001, por
atos terroristas, o Empire voltou a ser o mais alto edifício do mundo.
World Trade
Center
As torres gêmeas de Nova York - Com uma altura, cada uma, de 411 metros, com
110 andares, simbolizavam, em Nova York, o poder econômico da mais poderosa
nação do mundo, os Estados Unidos da América. Superava o Empire State
Building, com 381 metros, sem a antena. Terça-feira, 11 de setembro de 2001,
uma data que jamais será esquecida, essas torres foram destruídas, deixando
um saldo de 2.823 vítimas, trinta por cento das quais jamais poderão ser
identificadas, tamanho o calor da explosão do combustível nos aviões
utilizados pelos seqüestradores.
Titanic
Repousa no Oceano Atlântico, a 4.126 metros de profundidade, desde a
madrugada do dia 15.04.1912, o que restou das 46,329 toneladas do navio
Titanic, 270 metros de comprimento, 28 metros de largura, o “Navio
dos Sonhos”, o “Palácio Flutuante”. Sua construção foi concluída
em maio de 1911, em que foram empregados os mais modernos sistemas de
segurança, ao custo de 400 milhões de dólares. Antes de iniciar sua viagem
inaugural da Inglaterra para Nova York, alguém teria feito um infeliz
prognóstico: “Nem Deus afunda o Titanic”. Não desejamos concluir,
e não podemos fazê-lo, que Deus foi o autor da tragédia. Mas asseguramos com
certeza que bastou a ponta de um iceberg para nocautear o gigante, e fazer
naufragar com ele 1.522 almas.
A maioria dessas obras gigantescas, a começar pela Torre de Babel, caiu por terra. Muitas delas foram produto da vaidade humana, uma vaidade que exige demonstração pública de poder e riqueza. Nos tempos modernos, há uma corrida entre nações ricas para ver quem constrói torres cada vez mais elevadas, complexos comerciais cada vez maiores. A verticalização dos edifícios comerciais decorre, também, de uma exigência do mercado imobiliário, considerando as limitações de espaços nas grandes metrópoles. Contudo, por trás dessa imperiosa necessidade de ampliação dos espaços para atender a demanda, há o desejo de colocar o nome da empresa, da família, da nação num lugar bem alto, mais alto do que todos, para que todos vejam, admirem, reverenciem, aplaudam. Noventa anos separam o naufrágio do navio Titanic, no Oceano Atlântico, da tragédia do World Trade Center, em Nova York, e milhares de anos separam estes da Torre de Babel. Tais fatos revelam-nos que não há um só lugar completamente seguro em nosso planeta. Por isso devemos fazer tudo para glória de Deus, porque
“se o
Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela” (Salmos 127.1).
Os homens têm construído casas e edifícios com todos os requisitos de
segurança: portas de aço, guardas, sistema de alarme, grades de fero, cães
amestrados, mas se esquecem de fazer um seguro para a vida eterna; temem os
que podem matar o corpo e não podem matar a alma, mas não temem Aquele que
pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo (Mt 10.28).
Resgato a imagem do Titanic para ajudar numa outra reflexão. Há muitos séculos fazemos a seguinte pergunta: o crente pode perder a salvação? E há muitos séculos uns dizem que pode, outros, que não pode. De um lado, os que consideram a salvação imperdível; do outro, os que consideram plenamente possível o cair da graça. Vejamos um resumo dessas doutrinas.
CALVINISMO
Sistema teológico elaborado pelo teólogo francês João Calvino (1509-1564). Os
pontos fundamentais do seu ensino são:
·
Depravação total: Os homens nascem
depravados, não lhes sendo possível, nesse estado, escolher o caminho da
salvação.
·
Eleição incondicional - Somos escolhidos por
Deus para salvação, independente de qualquer mérito de nossa parte.
·
Graça irresistível - Os escolhidos não
resistirão à graça salvadora do Criador, em razão da atuação do Espírito
Santo, convencendo-os do pecado.
·
Expiação limitada aos eleitos – O alto preço do
resgate, pago por Jesus na cruz, alcançou apenas os eleitos.
·
Perseverança dos crentes - Nenhum dos eleitos perderá a
salvação; irão perseverar até o fim, pois estão predestinados ao céu desde a
fundação do mundo. Em resumo, o movimento teológico calvinista defende a
absoluta soberania de Deus, e a exclusão do livre-arbítrio. Deus concede aos
eleitos graça eficaz e irresistível, que permite ao homem continuar
perseverante por toda a vida.
ARMINIANISMO
Sistema teológico formulado pelo teólogo holandês Jacobus Arminius
(1560-1609), em oposição à doutrina calvinista da predestinação, assim
exposto:
·
Livre-arbítrio – Deus concedeu ao homem a capacidade de
aceitar ou recusar a salvação que lhe é oferecida.
·
Eleição condicional – Deus elege ou reprova
com base na fé ou na incredulidade em Jesus Cristo.
·
Expiação ilimitada – Cristo morreu por
todos, e não somente pelos eleitos.
·
Graça resistível – É possível ao homem rejeitar
a Graça de Deus e, em conseqüência, perder a salvação.
·
Decair da Graça – Os salvos podem perder a salvação se não
perseverarem até o fim.
Agora, tomemos por empréstimo a imagem do Titanic para melhor compreendermos a eleição incondicional e prévia dos salvos, a restrição ao acesso da cruz de Cristo, por um lado; e por outro, o livre-arbítrio, a eleição condicional, o acesso à cruz a todos os que aceitarem o Evangelho. A vida aqui na terra é uma viagem inaugural que tem começo e fim. O homem está avariado pelo iceberg do pecado; se continuar no mesmo rumo, sem mudar de atitude, sem mudar a rota, fatalmente será destroçado. Em determinado momento, um enorme navio, o navio dos predestinados, mais belo e mais possante, baixa âncoras junto ao Titanic dos condenados. O Comandante, de posse de um potente megafone, anuncia que está ali para salvar vidas. Imediatamente, com auxílio de roldanas, faz descer uma enorme prancha de madeira em forma de cruz, a fim de permitir o acesso dos condenados ao navio da predestinação. “Venham! Venham, meus escolhidos; aqui encontrarão descanso para suas almas”, diz o Comandante. A água, que inicialmente invadira cinco dos 16 compartimentos estanques, agora toma conta das fornalhas, invade os alojamentos da terceira classe e faz submergir um terço da proa. As 1.954 janelas com vidro vão-se quebrando pouco a pouco, e os estilhaços provocam profundos ferimentos nas pessoas. Ao ouvirem o chamado, nem todos atendem. São os que ainda alimentam vãs esperanças, um bom número corre para iniciar a travessia. Todavia, ouvem uma ordem: ”Não! Não venham todos! Só os escolhidos poderão passar por essa cruz. Por alto preço os comprei. Minha cruz não suporta o peso de tantas vidas, e o meu barco tem capacidade limitada”. Então, o Comandante foi chamando um a um pelo nome; “Pedro, Wagner, Marcos, Marcelo, Norberto, venham, vocês são os meus escolhidos desde o começo, desde a partida do navio do porto de Southampton, na Inglaterra, no dia 10 de abril”. E assim, os devidamente chamados e previamente escolhidos, fizeram a travessia, e agora estavam fora de perigo no barco da predestinação. Um dos salvos, já acomodado no navio dos eleitos, perguntou: “O Senhor deixará morrer aqueles?”. E ouviu a seguinte explicação:
“Meu bom eleito.
Aqueles que agora descem às águas profundas já estavam condenados de há
muito. Com você e com todos que estão aqui comigo usei de misericórdia,
porque uso de misericórdia com quem quero. Com aqueles usei de justiça. Agora
você sabe que uso de justiça e de misericórdia. Eu não os afoguei; eles é que
se afogaram em suas iniqüidades”.
O predestinado ainda tentou conseguir mais explicação, mas o Comandante cortou a conversa, categórico. Olhou-o nos olhos, colocou a mão sobre seu ombro, e disse: “É a minha Soberania, filho, a minha Soberania”. Em seguida, o Comandante deu partida ao enorme navio, rumo a um porto seguro. Os eleitos ainda tiveram tempo de olhar para trás e ver o Titanic partir-se ao meio, ficar com a popa na vertical e iniciar seu sinistro caminho nas águas geladas, rumo às fossas abissais. Numa outra versão, o navio da predestinação se aproxima do Titanic; a cruz é estendida, e o Comandante convida todos, e todos os que ouviram e aceitaram o convite ficam perfilados e começa a travessia.
“Venham todos – diz
o Comandante. Todos serão acolhidos no meu navio. Minha cruz suporta o peso
de todas as almas, as quais resgatei por alto preço. Usarei de justiça com os
que rejeitarem o meu convite, mas com misericórdia com os que atravessarem
essa cruz. No meu navio vocês estarão predestinados à salvação. Venham,
benditos; todos os que vierem são meus eleitos. O navio em que vocês estão
está avariado, prestes a afundar. É o tempo do fim. Coloco diante de vocês o
caminho estreito e difícil da cruz. Não será fácil a travessia. Os ventos são
contrários, mas eu lhes sou favorável; tenham os olhos fixos em mim; não
olhem para trás; cada passo à frente é uma conquista; venham! Muitos já chegaram
até aqui; não desanimem; prossigam”.
Um dos salvos, indagou: “Comandante, por que ficaram aqueles?”. O Comandante respondeu:
“Porque não deram
ouvidos ao meu chamado. Aquele navio carrega muito ouro, prazeres e
fantasias. O coração deles está nessas coisas. Usam do direito do
livre-arbítrio para recusar a minha oferta de salvação. Com vocês, manifestei
a minha misericórdia; com eles, minha justiça”.
A água, depois de invadir as 159 fornalhas, chegou à primeira classe, a dos milionários. Caem as quatro chaminés de 19 metros. Diante da situação incontrolável e da iminente morte, ecoam gritos de desespero na escuridão. O gigante Titanic, nome dado em homenagem aos titãs da mitologia grega, partido ao meio e vencido, aponta sua popa na posição vertical, como que olhando de joelhos para o céu, e logo depois desaparece nas águas geladas. O quadro apresentado revela no primeiro instante a posição calvinista da expiação limitada de Jesus, em que apenas os previamente eleitos serão salvos. O segundo quadro representa a posição oposta, o da expiação ilimitada, em que todos podem obter a graça da salvação.
Autor: Pr Airton Evangelista da Costa
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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
O Titanic e a Predestinação
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