quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A Doutrina da Predestinação


A Doutrina da Predestinação

        “Predestinar” significa planejar ou determinar o destino. Este verbo se encontra na bíblia apenas nas seguintes passagens: 

“Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou”. (Rm.8.29-30).

“Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade... Nele, digo, no qual também fomos feitos herança, havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade.” (Ef.1.4,5,11)

         A teoria calvinista a respeito da predestinação diz que Deus escolheu os que haviam de se salvar e condenou os demais à perdição eterna, independente do desejo dos indivíduos. É bom observar que os textos acima não afirmam tal coisa. Tais declarações calvinistas me parecem contrárias ao ensino bíblico geral bem como ao caráter de Deus expresso na bíblia. 

Como podemos compreender a predestinação bíblica e relacioná-la ao livre-arbítrio humano?
         Antes da fundação do mundo, Deus já sabia quem haveria de crer em Cristo e quem haveria de rejeitá-lo. Para os que o aceitariam, ele fez um plano. Ele determinou que eles seriam seus filhos, semelhantes a Cristo. A predestinação se baseia na presciência (IPd.1.2) e não numa escolha soberana de Deus. Predestinar é planejar. Deus tem um plano de salvação, mas isso não significa escolher quem será salvo. Por exemplo, a arca de Noé estava predestinada a flutuar sobre as águas do dilúvio, mas quem seriam seus ocupantes? Era uma questão de decisão individual.
         A predestinação bíblica sempre se refere a grupos, conforme observou o Pr. Silas Malafaia. Seus verbos e pronomes sempre estão no plural. O indivíduo deve escolher a qual grupo quer pertencer. Deus predestinou Israel para uma missão: trazer Jesus ao mundo. Também predestinou a igreja para o céu e os ímpios para o inferno. 

“Os ímpios serão lançados no inferno, e todas as nações que se esquecem de Deus”. (Salmo 9.17).

         Se considerarmos o versículo acima como uma determinação que deixa o indivíduo sem escolha, então não precisaríamos mais pregar o evangelho, pois todos os ímpios já estão condenados. Sabemos, porém, que cada indivíduo ainda tem chance de deixar a impiedade e se converter ao evangelho. Quando, porém, Jesus voltar, todos os que forem ímpios irão para o inferno e todos os que forem justos irão para o céu, pois assim estava predeterminado, não para o indivíduo mas para o tipo de pessoa que ele escolheu ser. 
         A doutrina da eleição é bíblica, mas não elimina o livre-arbítrio. Afinal de contas, não se costuma eleger alguém que não deseja ser eleito. A eleição realizada por Deus não foi algo individual, mas coletiva. Cristo é o eleito de Deus e nós fomos eleitos NELE (Ef.1.4). Quem estiver EM Cristo é eleito e todos quantos quiserem podem se incluir nesse grupo. É como alguém que entra para o partido do governo, mesmo após as eleições. O indivíduo usufrui dos efeitos da eleição e governa juntamente com O ELEITO.
         Sabemos que Israel era a raça eleita de Deus no Velho Testamento. O que dizer dos cananeus? Sabemos que eram malditos, condenados, predestinados a tudo de ruim que pudesse existir. Contudo, mesmo naquele contexto, um indivíduo cananeu podia escapar da predestinação de seu povo e entrar na predestinação de Israel. Foi exatamente o que aconteceu com Raabe, a meretriz, que se converteu ao Deus de Israel. 

A universalidade do pecado humano e da graça divina.
         Na epístola ao romanos, Paulo se esforça para demonstrar a universalidade do pecado. Não era admissível que alguém se considerasse uma exceção, como se não fosse um pecador aos olhos de Deus. Da mesma forma, não é admissível que alguém se considere fora do propósito divino de salvação. Pelo que está escrito, entendemos que Paulo consideraria absurda tal idéia. Ele insiste que o pecado atingiu a todos e a salvação também é para todos. 

“Justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para TODOS e sobre todos os que crêem, porque NÃO HÁ DISTINÇÃO, pois TODOS pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus”. (Rm.3.22-24).

         Se consideramos universal a declaração de “todos pecaram”, não podemos negar a universalidade de todo o contexto, de modo que a graça salvadora e a justificação estejam disponíveis para todos. Sabemos que só os que crêem é que serão salvos, mas todos podem crer. Caso contrário, Jesus não mandaria que se pregasse o evangelho a toda criatura. 

Depravação total – incapacidade de crer e decidir?
         Os calvinistas afirmam que o ser humano, em seu estado de morte espiritual, não tem condições de crer em Deus nem aceitar sua oferta de salvação. Ao dizerem isso, tem em mente a morte física como padrão. Um cadáver não tem condições de crer nem escolher. Entretanto, a morte espiritual não guarda perfeita semelhança com a morte física, pois, se assim fosse, o fato fato de estarmos “mortos para o pecado” (Rm.6.11) significaria que somos incapazes de pecar. Sabemos que não é assim. Da mesma forma, embora mortos, separados da vida de Deus, os ímpios não são incapazes de se arrependerem, de crerem no evangelho ou de escolherem a vida.
         Vejamos o que Jesus disse a um grupo de judeus:

“E o Pai que me enviou, ele mesmo tem dado testemunho de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz, nem vistes a sua forma; e a sua palavra não permanece em vós; porque não credes naquele que ele enviou. Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; e são elas que dão testemunho de mim; mas não quereis vir a mim para terdes vida.” (João 5.37-40).

         Aqueles judeus estavam mortos espiritualmente; tanto é assim, que Jesus lhes ofereceu vida. Entretanto, tal condição de morte espiritual não representava incapacidade de crer, pois Jesus lhes repreendeu por sua incredulidade. Sua morte espiritual também não significava ausência de livre-arbítrio. Jesus lhes disse: “NÃO QUEREIS vir a mim para terdes vida”. Outros mortos quiseram e foram vivificados. 

Perseverança dos santos – automática e irreversível?
         Se a salvação dependesse única e exclusivamente de Deus, seria natural que todos os escolhidos para a salvação perseverassem até o fim. Mas, como sabemos que a salvação depende também da vontade humana, deduzimos que o homem pode também rejeitá-la após tê-la abraçado. O homem pode cair da graça divina, conforme afirma o apóstolo Paulo aos Gálatas: 

“Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. E de novo testifico a todo homem que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar toda a lei. Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça decaístes”. (Gal.5.2-4).

         O apóstolo escreveu para cristãos verdadeiros. Eles estavam inclinados a adotarem a lei judaica como condição para a salvação. Se assim fizessem, e talvez alguns já tinham feito, eles teriam caído da graça, estariam separados de Cristo e ele de NADA lhes aproveitaria. É óbvio que não estariam salvos. Não é correto afirmar que, se não estariam salvos é porque nunca estiveram. Paulo não pensava desta forma. Se pensasse, não lhes teria enviado uma epístola. O apóstolo haveria de escrever doutrinas e admoestações para pessoas que nunca foram salvas?
         De fato, elas eram salvas e corriam o risco de se desviarem. A estas mesmas pessoas, Paulo continua advertindo: 

“Ora, as obras da carne são manifestas, as quais são: a prostituição, a impureza, a lascívia, a idolatria, a feitiçaria, as inimizades, as contendas, os ciúmes, as iras, as discórdias, as dissensões, as facções, as invejas, as bebedices, as orgias, e coisas semelhantes a estas, contra as quais vos previno, como já antes vos preveni, que os que tais coisas praticam NÃO HERDARÃO o reino de Deus”. (Gal.5.19-21).

         Se a perseverança dos santos fosse algo automático e irreversível, que dependesse apenas de Deus, o Novo Testamento não estaria repleto de advertências. Afinal, o Novo Testamento não precisaria ser tão extenso, se tudo já estivesse predeterminado por Deus para cada um de nós, de modo que nada pudéssemos fazer ou escolher para mudar nosso rumo espiritual.
         As Escrituras estão repletas de textos CONDICIONAIS. Deus estabelece planos que vão se cumprir em nós somente SE satisfizermos uma série de condições pré-estabelecidas. Senão, eles se cumprirão em outras pessoas que atenderão aos requisitos divinos.
         Se a situação de cada indivíduo estivesse predeterminada, os textos bíblicos teriam afirmações incondicionais, visto que aconteceriam de qualquer forma.

“Eu sou a videira; vós sois as varas. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Quem não permanece em mim é lançado fora, como a vara, e seca; tais varas são recolhidas, lançadas no fogo e queimadas. Se vós permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito” (João 15.5-7).

         Aquela vara que não permaneceu na videira era um verdadeiro cristão, pois esteve ligado a Cristo. No entanto, resolveu abandoná-lo. Jesus estava certo dessa possibilidade e, por isso, estava advertindo seus discípulos. 

“Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se é que guardamos firme até o fim a nossa confiança inicial” (Heb.3.14).

        O autor tinha dúvidas sobre sua salvação? Não, mas estava consciente sobre a necessidade de sua perseverança e que esta não seria automática nem irreversível. 

“Se é que permaneceis na fé, fundados e firmes, não vos deixando apartar da esperança do evangelho que ouvistes, e que foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, fui constituído ministro” (Col.1.23).

“Dirás então: Os ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado. Está bem; pela sua incredulidade foram quebrados, e tu pela tua fé estás firme. Não te ensoberbeças, mas teme; porque, se Deus não poupou os ramos naturais, não te poupará a ti. Considera pois a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; para contigo, a bondade de Deus, se permaneceres nessa bondade; do contrário também tu serás cortado. E ainda eles, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Deus para os enxertar novamente” (Rm.11.19-23).

         Os escritores do Novo Testamento se mostram preocupados e temerosos em relação à condição espiritual dos irmãos. Se nosso destino espiritual estivesse traçado e fosse inalterável, eles não se preocupariam. 

“Pois não quero, irmãos, que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, e todos passaram pelo mar; e, na nuvem e no mar, todos foram batizados em Moisés, e todos comeram do mesmo alimento espiritual; e beberam todos da mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os acompanhava; e a pedra era Cristo. 
Mas Deus não se agradou da maior parte deles; pelo que foram prostrados no deserto. Ora, estas coisas nos foram feitas para exemplo, a fim de que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram. Não vos torneis, pois, idólatras, como alguns deles, conforme está escrito: O povo assentou-se a comer e a beber, e levantou-se para folgar. Nem nos prostituamos, como alguns deles fizeram; e caíram num só dia vinte e três mil.
E não tentemos o Senhor, como alguns deles o tentaram, e pereceram pelas serpentes. E não murmureis, como alguns deles murmuraram, e pereceram pelo destruidor. Ora, tudo isto lhes acontecia como exemplo, e foi escrito para AVISO NOSSO, para quem já são chegados os fins dos séculos. Aquele, pois, que pensa estar em pé, olhe não caia.” (ICo.10.12).

“Mas temo que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos entendimentos e se apartem da simplicidade e da pureza que há em Cristo” (IICo.11.3).

“Ora, quero lembrar-vos, se bem que já de uma vez para sempre soubestes tudo isto, que, havendo o Senhor salvo um povo, tirando-o da terra do Egito, destruiu depois os que não creram”. (Jd.5).

        “Temo a vosso respeito não haja eu trabalhado em vão entre vós” (Gal.4.11). 

O grupo e o indivíduo
         Na história de Israel, verificamos que o plano de Deus para a nação estava em execução. Não obstante, muitos indivíduos se excluíram deste processo. O mesmo pode acontecer na igreja, hoje.
         O autor da carta aos hebreus parece ter em mente este fato ao escrever:

“Portanto, tendo-nos sido deixada a promessa de entrarmos no seu descanso, temamos não haja algum de vós que pareça ter falhado.
Porque também a nós foram pregadas as boas novas, assim como a eles; mas a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não chegou a ser unida com a fé, naqueles que a ouviram.
Porque nós, os que temos crido, é que entramos no descanso, tal como disse: Assim jurei na minha ira: Não entrarão no meu descanso; embora as suas obras estivessem acabadas desde a fundação do mundo” (Heb.4.1-3).

         Todos os israelitas estavam predestinados para participarem do propósito divino, mas não eram obrigados a isso. 
         O endurecimento de Israel como nação parece ter sido um ato divino. Entretanto, isto não impediu que muitos israelitas, individualmente, agissem de modo diferente da tendência nacional. Os apóstolos de Jesus, e também Paulo, eram judeus, mas usaram seu direito de escolha para aceitarem o evangelho.
         Embora Paulo tenha se convertido em situação nada convencional, não podemos concluir que ele não usou seu livre-arbítrio. Em seu testemunho, ele disse: “Não fui desobediente à visão celestial”. Então, poderia ter sido (At.26.19). 

O livre-arbítrio
         A bíblia contém uma série de textos em que o direito humano de escolha fica claro:
         Adão e Eva, no jardim do Éden, podiam escolher o fruto que comeriam. Escolheram a desobediência e foram castigados por causa dela. Se estivessem predestinados a pecar, Deus não os condenaria.
         Depois vieram Caim e Abel. Deus deixou claro para Caim que, se ele mudasse sua atitude, sua oferta poderia ser aceita (Gn.4.7). Por outro lado, havia a opção pelo pecado. Se tudo estivesse predestinado e predeterminado por Deus, por quê o Senhor haveria de alertá-lo? É bom observarmos que Caim estava morto espiritualmente, mas isso não significava incapacidade de ouvir a voz de Deus, crer e decidir. 

Outras passagens interessantes são estas:

“Mas, se vos parece mal o servirdes ao Senhor, escolhei hoje a quem haveis de servir; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Js.24.15).

“O céu e a terra tomo hoje por testemunhas contra ti de que te pus diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência” (Dt.30.19).

A realidade da apostasia
        Um filho pode deixar de ser filho? Não, mas isso não significa que ele será salvo. Os israelitas foram chamados de filhos de Deus. “A eles pertence a adoção...” (Rm.9.4). Vejamos, porém, o que Jesus disse: 

“Também vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente, e reclinar-se-ão à mesa de Abraão, Isaque e Jacó, no reino dos céus; mas os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes” (Mt.8.11-12).

        Assim também, na igreja, não basta sermos filhos, precisamos ser obediente, fiéis até o fim.
         Paulo disse que, nos útlimos dias, haverá grande apostasia (IITss.2.3). Esta palavra significa abandono da fé, desvio do caminho de Deus. Só o verdadeiro cristão pode apostatar-se. Aquele que nunca teve uma verdadeira experiência com o Senhor, não tem de quê se desviar. Além disso, os escritores bíblicos não estavam preocupados com os falsos quando escreveram as advertências já mencionadas. 
         Quando Pedro escreveu sobre os falsos mestres, ele deixou claro que se tratava de pessoas que haviam sido salvas, mas desviaram-se para a perdição. 

“Mas houve também entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá falsos mestres, os quais introduzirão encobertamente heresias destruidoras, negando até o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. (IIPd.2.1).

        Na sequência, o apóstolo, deixa claro que, assim como Deus não poupou os anjos que pecaram, mas os lançou no inferno (2.4), assim acontecerá com estes homens que haviam escapado das corrupções do mundo pelo conhecimento do nosso Senhor Jesus Cristo (2.20), mas abandonaram o caminho reto (2.15), ou seja, apostataram-se. Antes de serem falsos mestres, tais pessoas eram verdadeiros cristãos. Porém, não foram perseverantes. 

A graça de Deus é irresistível?
        Se a graça fosse irresistível, todos os homens seriam salvos, visto que Deus amou o mundo (João 3.16), quer que todos os homens se salvem (ITm.2.4) e todos são alvo da sua graça, conforme Paulo escreveu a Tito (2.11).
        Se nem todos se salvarão é porque resistem à graça de Deus. O Espírito Santo é o agente da salvação e muitos o resistem, como disse Estêvão: 

“Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; como o fizeram os vossos pais, assim também vós” (At.7.51).

“Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação” (Heb.3.15).

A soberania divina
        A soberania divina está acima do livre-arbítrio, mas não para salvar ou condenar alguém sem que tal pessoa tenha direito de escolha. Por sua soberania, Deus usa a quem ele quer para que seus propósitos se cumpram na terra, mesmo que essas pessoas não queiram. Se elas serão salvas, é outro assunto, e dependerá do livre-arbítrio de cada um.
        É verdade que Deus endurece o coração de algumas pessoas, em algumas circunstâncias, visando propósitos definidos. Entretanto, ele só faz isso com aqueles que lhe deram motivo, devido às suas próprias escolhas anteriores.
        Se alguém rejeita o Senhor, ele poderá utilizar estas mesmas pessoas em alguma parte do seu plano, embora elas não venham a ser salvas. Faraó não era um servo de Deus. Por quê? Porque não quis. Estando definida sua posição, Deus o usou como instrumento para que o poder divino fosse conhecido pelos egípcios e pelos israelitas através das dez pragas. 
        Se alguém não quiser ser um vaso para honra, será um vaso para a desonra. De qualquer forma, poderá ser útil no plano geral de Deus. Foi o que aconteceu também com Judas Iscariotes.
        Isto não significa que Faraó e Judas já estivessem predestinados a se perderem. Eles poderiam ter sido salvos apesar de tudo. O coração de Faraó foi endurecido, não no sentido de não crer em Deus, mas apenas no propósito de não deixar o povo de Israel sair do Egito. 

As oportunidades que Deus oferece não fariam sentido num sistema predeterminado.
        A cada dia temos novas oportunidades para obedecer ou para apostatar. E os apóstatas, têm oportunidade de se voltarem (guardadas as exceções de Heb.6.4-6). Isto mostra que a predestinação não anula a liberdade de escolha de cada um.
        Os discípulos, escolhidos por Jesus, tinham oportunidade de abandoná-lo: “Quereis vós também ir?” (João 6.67). E, de fato, um deles se perdeu.
        Pelo que a bíblia diz, deduzimos que Caim não foi salvo. Alguém poderia dizer que ele estava predestinado ao inferno. Porém, o próprio Deus foi alertá-lo, dizendo:

“Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas cumpre a ti dominá-lo” (Gn.4.7).

        Este versículo nos mostra claramente que nada está predeterminado. Caim teve a oportunidade de escolher o seu caminho para a salvação ou para a perdição.
         O Senhor quer que todos se arrependam (At.17.30) e a todos dá tempo para o arrependimento. Se todos já estivessem predestinados ao céu ou ao inferno, por quê Deus haveria de dar oportunidades? 

“Mas tenho contra ti que toleras a mulher Jezabel, que se diz profetisa; ela ensina e seduz os meus servos a se prostituírem e a comerem das coisas sacrificadas a ídolos; e dei-lhe tempo para que se arrependesse; e ela não quer arrepender-se da sua prostituição” (Ap.2.20-21).

        Se essa misteriosa Jezabel estivesse predestinada ao inferno, Deus não lhe daria tempo para se arrepender. Se ela estivesse predestinada ao céu, teria se arrependido no tempo que Deus lhe deu.
         Se sua condição de morte espiritual significasse incapacidade absoluta, Deus não lhe daria tempo para se arrepender, pois isto seria inútil. Se a graça fosse irresistível, então ela teria se arrependido.
        Se Deus lhe oferecesse tempo sem lhe oferecer a graça salvadora, Deus seria incoerente como alguém que espera que um pássaro voe após ter lhe amputado as asas. 

Riscos oferecidos pelo calvinismo
        Escolher entre o calvinismo e o arminianismo pode parecer apenas uma questão de posicionamento teológico, teórico e acadêmico. Não é assim tão simples.
        A crença numa predestinação individual e inevitável significa pensar que cada pessoa já tem seu futuro eterno escolhido por Deus, de modo que ela nada possa fazer para mudá-lo.
        Entre os calvinistas, alguns defendem a tese de que todo os predestinados para a salvação serão arrebatados quando Jesus voltar, mesmo aqueles que forem surpreendidos na prática pecaminosa. Esse tipo de crença pode levar a uma vida sem santificação, colocando em risco a alma de quem assim vive.
        Por outro lado, se tudo já está determinado, não é necessário muito esforço no evangelismo. 
       Tais atitudes são contrárias ao ensinamento de Jesus. Vejamos o que o Mestre ensinou sobre a sua vinda: 

“Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor; sabei, porém, isto: se o dono da casa soubesse a que vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria minar a sua casa.
Por isso ficai também vós apercebidos; porque numa hora em que não penseis, virá o Filho do homem. Quem é, pois, o servo fiel e prudente, que o senhor pôs sobre os seus serviçais, para a tempo dar-lhes o sustento?
Bem-aventurado aquele servo a quem o seu senhor, quando vier, achar assim fazendo. Em verdade vos digo que o porá sobre todos os seus bens.
Mas se aquele outro, o mau servo, disser no seu coração: Meu senhor tarda em vir, e começar a espancar os seus conservos, e a comer e beber com os ébrios, virá o senhor daquele servo, num dia em que não o espera, e numa hora de que não sabe, e cortá-lo-á pelo meio, e lhe dará a sua parte com os hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes”. (Mt.24.42-51)

        Jesus não estava falando de falsos crentes, mas de verdadeiros. Afinal de contas, o falso não precisa vigiar, pois está perdido de qualquer forma. O verdadeiro precisa vigiar, pois nada está predeterminado. Se o Senhor o encontrar na infidelidade, seu destino será a condenação. 

Autor: Prof. Anísio Renato de Andrade 


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