quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

HISTÓRIA DA IGREJA - OS CONCÍLIOS ECUMÊNICOS


HISTÓRIA DA IGREJA - OS CONCÍLIOS ECUMÊNICOS

O QUE É UM CONCÍLIO?
Um concílio é uma reunião de autoridades eclesiásticas com o objetivo de discutir e deliberar sobre questões pastorais, de doutrina, fé e costumes (moral). Os concílios podem ser ecumênicos, plenários, nacionais, provinciais ou diocesanos, dependendo do âmbito de abrangência.

O primeiro concílio ocorreu em Jerusalém, conforme pode ser lido no livro de Atos, capítulo 15, quando os Apóstolos se reuniram para tratar sobre os temas que estavam dividindo os primeiros cristãos: de um lado os judaizantes (judeus convertidos) e do outro os gentios (os convertidos não-judeus).

No primeiro Concílio Ecumênico (Nicéia 325), vários assuntos estavam em pauta. Um dos principais eram as heresias que estavam surgindo sobre a pessoa de Jesus. Estas heresias não eram novidades, elas já haviam sido combatidas pelos apóstolos em suas epístolas, mas continuavam em evidência. Uma que estava preocupando a Igreja era o arianismo.

O ARIANISMO
 Ário era um bispo em Alexandria que negou que Cristo fosse Deus. Ário ensinava que Jesus era divino, mas de uma divindade subordinada ao Pai. Segundo Ário, Jesus era um homem que não tinha uma alma humana, já que em seu caso a alma tinha sido substituída pelo “Logos”, ou seja, o Verbo de Deus. Esse “Logos” ou Verbo era um ser espiritual criado por Deus para habitar no homem Jesus.Assim sendo, em essência Ário negou tanto a humanidade de Jesus, já que ele não tinha uma alma humana, negando também sua verdadeira Deidade.

Ário era um pregador dinâmico e famoso, tendo uma personalidade atraente. Ele inventou um slogan sobre Cristo “houve um tempo quando ele não existia”, que se tornou famoso. Seus ensinamentos logo causaram consternação no império. Alguns bispos o condenavam como heterodoxo e herege. Outros o defendiam. Houve conflitos nas ruas, especialmente em Alexandria, e muitos morreram defendendo suas crenças. O imperador Constantino, ao tomar conhecimento dos grandes distúrbios, interveio rapidamente para assegurar a paz e estabilidade no império. Ele convocou assim um Concílio, ou Sínodo, no qual bispos de todo o império deveriam comparecer para avaliar os ensinamentos de Ário, e formular o entendimento e as doutrinas bíblicas sobre o assunto.

CONCÍLIO DE NICÉIA (325) – PRIMEIRO CONCÍLIO ECUMÊNICO
O imperador Constantino conclamara o concílio para dirimir a controvérsia ariana, e era a respeito dela que os bispos queriam falar. Dos 318 bispos presentes na abertura do concílio, somente 28 eram abertamente declarados arianos. O próprio Ário não recebeu permissão para participar do concílio por não ser bispo. Foi representado por Eusébio de Nicomédia e Teogno de Nicéia.

O Concílio de Nicéia foi o primeiro considerado ecumênico. A ele compareceram entre 250 a 300 bispos. O Concílio durou aproximadamente dois meses e tratou de muitas questões que confrontavam a Igreja. Aproximadamente vinte “cânones” ou decretos foram promulgados pelo imperador e pelos bispos, que variavam desde a deposição de bispos até a ordenança de eunucos. Mas, o objetivo principal era produzir um documento que definisse a crença ortodoxa (ou seja, o que a Igreja entendia ser o ensinamento bíblico) sobre Deus e Jesus. Para isso, era preciso que se usasse linguagem teológica e técnica – e não somente termos bíblicos – para as definições, sendo que os hereges usavam termos bíblicos fora de contexto para defenderem suas próprias teses. Desse modo, o concílio decidiu usar a palavra grega homoousios – significando “da mesma essência” – para definir a relação entre a essência de Jesus Cristo e Deus. O imperador usou de sua autoridade para que todos os bispos assinassem o documento final. Ário foi excomungado como herege. Apesar disso, alguns discordavam dessa formulação. Os seguidores de Arius usavam o termo heteroousios – significando que Jesus era de uma essência diferente – e outros, procurando um “meio termo”, usavam o termo homoiousias – significando “de essência similar”.

O bispo de Alexandria foi declarado foi declarado “patriarca” dos bispos das regiões da África do Norte e arredores, e o bispo de Roma o legítimo líder emérito dos bispos ocidentais.

Nos anos que se seguiram, ainda que a Igreja tivesse um pronunciamento oficial sobre a questão, esses dois partidos heterodoxos continuaram a causar distúrbios e negar que Jesus era Deus eterno, a segunda Pessoa da Trindade. O defensor mais hábil e famoso da doutrina ortodoxa sobre esse assunto foi Atanásio.

ATANÁSIO E CREDO DE NICÉIA
Atanásio se tornou bispo de Alexandria em 328 d.C. Em 335, pressões políticas tinham convencido o imperador Constantino a readmitir Ário para a comunhão da Igreja. Entretanto, de acordo com as resoluções sobre governo eclesiástico definidas em Nicéia, somente o bispo de Alexandria poderia readmitir uma pessoa excomungada em sua jurisdição. Essa pessoa, no caso, era Atanásio, e ele se recusou a readmitir Ário. Como resultado, Constantino depôs Atanásio e o baniu de Alexandria. Constantino morreu dois anos depois, em 337.

Atanásio, o grande defensor da fé ortodoxa, passou os próximos anos de sua vida sendo repetidamente banido e readmitido por diferentes imperadores, de acordo com os ventos políticos de cada momento. Ele passou muitos anos escondido em desertos e cavernas do Egito. Atanásio produziu muitos documentos e tratados teológicos, mesmo sendo foragido, e defendeu a ortodoxia até o dia de sua morte em 373.

O novo bispo convocou um sínodo para a reversão da excomunhão e reinstalação de Ário como bispo. Na noite anterior à cerimônia, Arius morreu de causas naturais, o que muitos cristãos viram como sendo o julgamento de Deus sobre o herege.

Após vários imperadores terem sucedido Constantino, em 379 Teodósio, defensor da ortodoxia Nicena, tinha se tornado imperador e convocou outro sínodo na capital do império, em Constantinopla. O sínodo de Constantinopla em 381 expandiu e revisou o Credo de 325 e ratificou a doutrina Nicena, incluindo linguagem ainda mais precisa defendendo a ortodoxia.

O documento produzido é o Credo Niceno que usamos hoje; tecnicamente, o credo é chamado Niceno-Constantinopolitano.

CONTROVÉRSIAS CRISTOLÓGICAS
A controvérsia Trinitária impulsionou os Concílios de Nicéia e Constantinopla, que definiram o entendimento da Igreja com relação ao ensinamento bíblico sobre quem era Jesus e a Trindade. As controvérsias Cristológicas posteriores referiram-se a questões sobre o relacionamento entre a divindade e a humanidade de Jesus.

CONCÍLIO DE CONSTANTINOPLA (381) – O SEGUNDO CONCÍLIO ECUMÊNICO
O Concilio de Constantinopla reafirmou e até mesmo expandiu, de maneira mais precisa e técnica, a idéia formulada pelo Concilio de Nicéia - de que Jesus era Deus verdadeiro e homem verdadeiro, tendo a mesma essência do Pai, ainda que sendo uma Pessoa distinta da Trindade.

Uma das controvérsias cristológicas teve início quando um bispo sírio chamado Apolinário começou a pregar que o Verbo de Deus substituiu parte da alma humana (a mente) de Jesus (um ensinamento similar ao de Ário). Assim, Jesus não era nem completamente humano, nem completamente divino. Os ensinamentos de Apolinário foram condenados como heresia em Alexandria em 362 e também no Concílio de Constantinopla em 381 d.C.

CONCÍLIO DE ÉFESO (431) - O TERCEIRO CONCÍLIO ECUMÊNICO
Outra controvérsia começou quando Nestório, um dos mais importantes líderes eclesiásticos do 5º século, foi acusado de ensinar que as duas naturezas de Jesus (humana e divina) eram tão separadas a ponto de ele ser duas pessoas. Nestório se opunha ao titulo Theotokos dado a Maria. A palavra Grega significa “aquela que carregou a Deus”, no sentido de ser a “mãe de Deus”. Nestório argumentou que Maria deu a luz ao filho de Deus, e não a Deus; ela deu a luz à natureza humana de Jesus, e não a sua natureza divina, que é eterna. Seus opositores, por outro lado, argumentaram que, ainda que ela não tivesse originado a natureza eterna de Jesus, não se pode separar a natureza humana de Cristo da sua natureza divina. Tudo que pode ser dito de cada natureza de Jesus, pode ser dito da pessoa Jesus. Ele é uma só Pessoa, e é ao mesmo tempo homem e Deus. Maria, portanto, deu luz a Deus porque ela deu luz a Jesus. Ela não deu a luz a uma natureza, mas a uma Pessoa – Jesus – que é Deus; portanto, ela é mãe de Jesus, e em consequência, mãe de Deus.

O título dado a Maria não significava ensinar que, de alguma maneira misteriosa, Maria dera à luz a Deus na sua essência eterna. O termo fazia parte de um argumento contra a cristologia duvidosa dos nestorianos, e intenção da mensagem era mostrar que Maria não deu à luz a um mero homem. Não havia intenção de ensinar que Maria era a origem da natureza divina de Cristo, o que seria impossível – visto que a natureza divina não tem origem, porque é eterna; além do mais, Maria não tem atributos divinos. Cirilo, bispo em Alexandria, foi o opositor mais ferrenho de Nestório. 

Um concílio foi convocado na cidade de Éfeso em 431 e o ensinamento atribuído a Nestório foi condenado. O concílio oficialmente declarou que Jesus tem duas naturezas (humana e divina), mas é uma só Pessoa.

CONCÍLIO DE CALCEDÔNIA (451) - O QUARTO CONCÍLIO ECUMÊNICO
Outra controvérsia Cristológica importante se desencadeou quando um monge em Constantinopla chamado Eutiques começou a ensinar uma heresia no extremo oposto do nestorianismo. Segundo Eutiques, Jesus não só era uma só Pessoa, mas ele também tinha uma só natureza, e não duas (humana e divina). Essa heresia foi chamada de monofisitismo (mono = um; “physis” = natureza). A única natureza de Jesus, segundo os monofisitas, era a divina, que absorveu a natureza humana, divinizando-a. O eutiquianismo foi condenado como heresia no Concílio Ecumênico de Calcedônia em 451 d.C.

A fórmula adotada no concílio apresentou quatro qualificações que se tornaram a definição clássica sobre a relação entre as duas naturezas; clássicas porque as quatro qualificações são precisas e, juntas, refutam qualquer heresia possível sobre as duas naturezas. A fórmula diz que existe um único Cristo, que possui duas naturezas, não confusas e não transformadas, não divididas, não separadas, pois a união das naturezas não suprimiu as diferenças; antes, cada uma das naturezas conservou as suas propriedades e se uniu com a outra numa única pessoa e numa única hipóstase (ou essência).Foi afirmado que Jesus é verdadeiro homem e verdadeiro Deus, sendo consubstancial com os homens em sua natureza humana (exceto pela ausência do pecado) e consubstancial com Deus em sua natureza divina. 

Após o concílio, muitos continuaram a ensinar o monofisitismo, especialmente no Oriente. Hoje, muitos monofisitas se encontram na igreja Copta.

Assim terminou a fase principal das disputas cristológicas. Seguindo o que ensina a Bíblia, ficou assim o entendimento: em Cristo há duas naturezas e uma Pessoa. Ele era um verdadeiro homem, sujeito à dor e à morte. Ele é também a segunda Pessoa da Trindade, possuindo a natureza divina desde toda a eternidade, e assumindo a natureza humana no seio de Maria. Se Jesus fosse só homem, não poderia pagar pelos pecados daqueles que nele crêem. Por outro lado, se não tivesse adicionado a natureza humana à sua natureza eterna e divina, ele não poderia ter vivido uma vida perfeita como homem (perfeição esta que é imputada a todos que nele crêem) nem morrido na cruz por nossos pecados. Se Jesus tivesse suas naturezas misturadas, sua verdadeira natureza seria de um terceiro tipo, nem humana, nem divina.

J. DIAS






  FONTES:
  Agência de Informações Religiosas (AGIR)
  Biblioteca Wilkipédia
  Módulo 4 de Teologia da FTB - Editora Betesda



 

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