ESTUDO DA EPÍSTOLA DE TIAGO
Prof. Anísio Renato de Andrade
AUTORIA
De
acordo com o primeiro versículo da epístola, o nome do autor é Tiago, que se
apresenta como "servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo".
"Tiago" é a forma grega do nome hebraico "Jacó", que
significa "suplantador". Em princípio pode parecer que a autoria esteja
clara e bem definida. Contudo, não é assim. Já que o Novo Testamento menciona
várias pessoas com o nome de "Tiago", surge a questão de qual deles
teria sido o autor da carta. Temos, no mínimo, três personagens distintos com o
nome de Tiago:
1
- O maior, irmão de João, filho de Zebedeu (Mt.10.1-4)
2
- O menor, filho de Alfeu. (Mc.15.40).
3
- O irmão de Jesus (Mt.13.55; Mc.6.3).
Em
Atos 1.13-14 os três estão presentes, mas o texto fala de um certo Judas, que
era filho de Tiago. Não fica claro se esse Tiago era um dos três já citados ou
se poderia ser um quarto personagem. As passagens dos evangelhos que citam
Tiago, geralmente estão se referindo ao irmão de João. Sua morte é mencionada
em Atos 12.2. Não sabemos o que aconteceu com o filho de Alfeu. A partir daí,
existem outras referências que citam Tiago, em Atos e nas epístolas. Tais
passagens são normalmente relacionadas à pessoa do irmão de Jesus. Em Gálatas,
Paulo fala de seus contatos com Tiago, irmão do Senhor, que estaria em
Jerusalém. Com base nesse texto, os outros também são associados, por dedução,
à mesma pessoa. Tal associação é bastante aceita pelos críticos e parece muito
coerente. Quem segue essa ligação de textos acaba por atribuir ao irmão de
Jesus a autoria da epístola em epígrafe. Alguns comentaristas preferem não
seguir essa tendência e se abstêm de apontar o autor.
Considerando
que Tiago, irmão do Senhor Jesus, escreveu a carta, destacamos algumas
informações sobre a sua pessoa, conforme nos auxiliam o Novo Testamento, as
conjecturas e a tradição eclesiástica.
Tiago
não cria em Jesus antes da crucificação (João 7.5). É possível que sua
conversão tenha se dado após a ressurreição de Cristo, quando este lhe apareceu
(I Cor.15.7). Juntou-se então aos discípulos (At.1.14), tornando-se apóstolo
(Gál.1.19) é uma das "colunas" da igreja em Jerusalém (Gál.2.9). Sua
liderança obteve grande destaque, conforme se observa em Atos 12.17; 15.13-29;
21.18 e Gálatas 2.12. Tiago veio a ser chamado "o justo", por sua
integridade, e "joelho de camelo" devido às marcas que possuía em
virtude de suas constantes orações.
Segundo
Flávio Josefo, o irmão de Jesus morreu em 63 d.C. Sendo pressionado pelos
judeus para que negasse a Cristo e tendo permanecido firme em suas convicções,
Tiago foi arremessado de um lugar alto nas dependências do templo. Não tendo
morrido com a queda, foi apedrejado até a morte.
Data
- A data de produção da carta se situa entre os anos 45 e 48 d.C. Alguns
comentaristas sugerem um período anterior às epístolas paulinas, na segunda
metade do primeiro século.
Tema
principal - A religião prática.
Textos
chave - 1.27 e 2.26.
Características
O
livro tem teor prático, rigoroso, usa muitas ilustrações, é direto, tem estilo
semelhante ao sermão da montanha. Apresenta diversos preceitos morais. A carta
contém 108 versículos, entre os quais temos 54 mandamentos.
Sobre
seu rigor, destacamos: Tg. 1.7; 1.26; 2.9; 2.10; 2.19; 3.6; 3.8; 3.14-15;
4.1-4; 4.8-9; 4.16; 5.1-6.
DESTINATÁRIOS
A
carta é destinada às 12 tribos da diáspora (dispersão). São judeus cristãos que
se encontravam dispersos entre várias nações. (Tg. 1.1; 2.2).
PROVAS E
TENTAÇÕES
Tiago
introduz o assunto com palavras de impacto: "Tende grande gozo quando vos
forem enviadas várias provações." (Tg. 1.2). Não faz parte do nosso
pensamento moderno uma idéia como essa. Em nosso tempo, procura-se o menor
esforço e o maior prazer. A epístola nos mostra que as tentações e as provações
são elementos presentes e importantes na vida cristã. Por que essa importância?
Tiago responde: "sabendo que a prova da vossa fé produz a paciência."
(Tg. 1.3).
Precisamos
saber isso para termos uma atitude positiva diante daquilo que Deus nos envia
ou permite. Tudo o que Deus permitir de negativo em nosso caminho terá um
propósito e produzirá alguma virtude em nós. Isso, evidentemente, se sairmos
vencedores desse processo.
É
importante discernir entre prova e tentação e suas respectivas origens. Tiago
diz que ninguém pode dizer que é tentado por Deus (Tg. 1.13). Deus nos prova
nos coloca em teste. Ele não nos tenta. Entretanto, permite a tentação. Esta
vem de dentro de nós, atraída por fatores externos (Tg. 1.14-17). A isca é
exterior. A tentação está no apetite do peixe. Casos diferentes foram às
experiências de Adão, Eva e Cristo. Como não tinham pecado, a tentação foi
totalmente exterior (Gên.3; Mt. 4).
Prova
é teste. Tentação é indução ao erro. Toda tentação pode ser vista como prova.
Contudo, nem toda prova é tentação. Por exemplo, se Deus nos permite passar por
uma situação de dificuldade financeira, isso pode ser uma prova para demonstrar
se continuaremos confiantes e fiéis ao Senhor ou não. Se, em meio a tudo isso,
aparecer uma oportunidade de ganho ilícito, isso será uma tentação.
Estar
no deserto é prova. Oferta de "pedras no lugar de pães" é tentação
(Mt. 4.3).
A
prova e a tentação revelam o que há em nossos corações. São formas de
manifestar o que somos interiormente. Tal demonstração não serve para que Deus
nos conheça, pois ele já nos conhece plenamente. A prova e a tentação mostram
para nós mesmos a nossa natureza e fraquezas que talvez não conhecêssemos. Além
do auto-conhecimento, provas e tentações são oportunidades de aprendizagem, até
mesmo quando fracassamos. Tal conhecimento será útil para as próximas vezes.
A RELIGIÃO PRÁTICA
Confrontando
a epístola aos Hebreus com a de Tiago, verificamos que Hebreus contém uma
ênfase sobre a fé. Os destinatários precisavam se livrar da dependência que
tinham em relação aos elementos visíveis do judaísmo. O valores invisíveis e
celestiais são enfatizados. Tiago também escreve aos hebreus. Porém, seu
discurso tem uma ênfase diferente. Ele está enfatizando o visível.
Enquanto
a epístola aos Hebreus fala do céu, Tiago "põe os pés no chão" e nos
convida a encarar necessidades e desafios do dia-a-dia. Não existe nisso
nenhuma contradição. Os hebreus não deviam depender de elementos visíveis, tais
como o templo, os sacerdotes e os sacrifícios, para estabelecer ou manter sua
relação com Deus. Então, a fé no invisível é enfatizada. Entretanto, nosso
cristianismo não pode ser invisível. Ele precisa se manifestar através de ações
no mundo físico. Nessa parte entra a ênfase de Tiago sobre o valor das obras.
O
invisível não depende do visível, mas precisa produzir evidências visíveis, sob
pena de ser considerado inexistente. Por isso Tiago diz: "mostra-me a tua
fé sem as tuas obras." (Tg. 2.18). Se a minha fé não produz obras, então
tenho uma fé tão "eficaz" quanto à própria incredulidade. Precisamos
mostrar alguma coisa, pois o mundo espera pra ver. E isso só é possível através
de obras.
Tiago
enfatiza o valor do caráter cristão. Seu livro não se aplica à exposição
doutrinária, mas ao apelo veemente à prática de toda a doutrina cristã que já
se conhece. O conhecimento da palavra é fundamental (Tg. 1.18,21). Ouvir é bom
hábito (Tg. 1.19). A fé é indispensável (Tg. 1.6-7). Mas o processo não pode
parar nesse estágio, pois crer, os demônios também crêem. A insistência do
autor é a fim de que seus leitores coloquem em prática a palavra de Deus.
A
epístola mostra o contraste que muitas vezes ocorre entre a fé e a prática.
Conhecemos muito, cremos na palavra de Deus, mas praticamos pouco e falamos uma
palavra diferente da que ouvimos. Tiago expõe essa contradição e exorta no
sentido de corrigir tamanha distorção.
ALGUMAS CONTRADIÇÕES OBSERVADAS POR
TIAGO
Ouve-se a palavra, mas não se cumpre (Tg. 1.23).
Considera-se religioso, mas não se refreia a língua (Tg. 1.26).
Reúne-se em nome de Cristo e comete-se a acepção de pessoas na
mesma reunião (Tg. 2.1-4).
Alguém tem fé, mas não tem obras (Tg. 2.14).
Deseja-se o bem ao próximo, mas não se pratica esse bem (Tg. 2.15-16).
De uma mesma boca procede bênção e maldição (Tg. 3.10-12).
Alguém é considerado sábio, mas tem inveja e sentimento
faccioso (Tg. 3.13-16).
"Cobiçais e nada tendes" (Tg. 4.2). (Até no erro ficava evidente a
contradição)
"Pedis e não recebeis" (Tg. 4.3).
Deseja-se ser amigo de Deus e, ao mesmo tempo, amigo do mundo (Tg. 4.4).
Sabe-se fazer o bem, mas não se faz (Tg. 4.17)
ALGUMAS
EXORTAÇÕES CORRETIVAS
Pedir sabedoria a Deus (Tg. 1.5)
Sede prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para irar (Tg. 1.19).
Rejeitando toda a imundície, recebei com mansidão a palavra (Tg. 1.21)
Sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes (Tg. 1.22).
Mostrai pelo bom trato as obras em mansidão de sabedoria (Tg. 3.13)
Sujeitai-vos a Deus (Tg. 4.7).
Resisti ao Diabo (Tg. 4.7)
Chegai-vos a Deus (Tg. 4.8)
Alimpai as mãos (Tg. 4.8)
Purificai os corações (Tg. 4.8)
Senti as vossas misérias, lamentai e chorai (Tg. 4.9)
Sede pacientes (Tg. 5.7)
Orai (Tg. 5.13)
Cantai louvores (Tg. 5.13)
Confessai as vossas culpas uns aos outros (Tg. 5.16)
A
prática proposta por Tiago pode ser traduzida pela expressão "boas
obras".
Isso
inclui:
-
Ações a favor do próximo. Exemplo: "visitar os órfãos e as viúvas nas suas
tribulações" (Tg. 1.27).
-
Bom comportamento: "guardar-se da corrupção do mundo" (Tg. 1.27).
Normalmente
nos preocupamos em não fazer mal ao próximo. Está certo, mas, além disso,
precisamos fazer-lhe o bem, pois, se não fizermos, estaremos pecando (Tg.
4.17).
Conhecimento
da palavra, fé em Deus e rituais podem muito bem constituir uma religião falsa
se não estiverem associados à obediência, a qual se traduz em prática do que a
palavra manda. A prática revela sabedoria, que é o conhecimento assimilado e
aplicado. Tiago apresenta uma hipotética reunião religiosa onde se peca pela
acepção de pessoas. É a religiosidade desprovida de sabedoria, amor e
obediência aos preceitos divinos (Tg. 2.1-4).
Observe
que em todos os capítulos do livro encontramos ocorrências do termos
"sabedoria", "sábio" ou conjugações do verbo
"saber": Tg. 1.3,5; 2.20; 3.1,13,15,17; 4.4,14,17; 5.20. Em algumas
passagens, o uso do verbo parece ser apenas com fim sintático. Em outras,
torna-se evidente a questão do conhecimento e da sabedoria. O livro de Tiago
tem sido também considerado por alguns como o "livro de sabedoria" do
Novo Testamento, não apenas pelos versículos mencionados, mas pelo uso que faz
dos conselhos morais práticos, da mesma forma como se vê nos livros sapienciais
do Velho Testamento, principalmente Provérbios.
O CUIDADO COM AS PALAVRAS
Além
das obras, Tiago coloca em evidência o que falamos. Se cremos na palavra de
Deus precisamos falar de acordo com essa palavra e também proceder desse modo
(Tg. 2.12). As admoestações em relação à língua são diversas:
-
Não falar precipitadamente. Seja tardio em falar (Tg. 1.19). Uma vez falada, a
palavra não pode ser recolhida. Portanto, é bom que se reflita antes de se
pronunciar algo. Assim, evitaremos ofensas, pedidos mal feitos (Tg. 4.3),
planos incertos (Tg. 4.13-15) e até mesmo votos que não podemos cumprir (Obs.
Ec. 5.4-6).
-
Não falar demais. Tiago usa a expressões "frear", "refrear"
e "domar" a língua. (Tg. 1.26; 3.1-12).
-
Não mentir (Tg. 3.14).
-
Não amaldiçoar (Tg. 3.10).
-
Não acusar a Deus (Tg. 1.13).
-
Não usar palavras vãs no lugar da ação necessária (Tg. 2.16). Esse falar vão
pode até ser uma oração. Existem momentos em que não adianta orar. É preciso
agir. Lembre-se de Moisés diante do Mar Vermelho. Deus disse: "Por que
clamas a mim. Diga ao filhos de Israel que marchem" (Êx. 14.15).
-
Não falar mal nem julgar os irmãos (Tg. 4.11). Se existe um problema a ser
resolvido com uma pessoa, então não adianta comentar o fato com outros. Talvez,
o mal falado até seja verdade. Contudo, ainda assim trata-se de maledicência.
Mesmo
que o irmão esteja errado, nós não devemos difamá-lo. Quando Noé se desnudou em
sua tenda, seu filho Cão foi logo espalhar a notícia e por isso foi
amaldiçoado. Os filhos Sem e Jafé tomaram a providência de cobrir a nudez
paterna e por isso foram abençoados.
-
Não reclamar dos irmãos (Tg. 5.9).
-
Não jurar (Tg. 5.12).
Na
seqüência do capítulo 5, versos 13 em diante, o autor nos indica o que devemos
falar no lugar das queixas, ou dos juramentos: Ore, cante louvores, confesse
seus pecados.
Sintetizando,
Tiago relaciona:
A
palavra de Deus, a qual deve ser ouvida e recebida;
A
fé que depositamos em Deus e em sua palavra;
Nosso
falar e nosso agir, os quais devem ser coerentes com a
palavra, conseqüências e evidências indispensáveis da
nossa fé.
ARREPENDIMENTO E JUÍZO
Diante
de uma realidade religiosa tão contraditória e tendo em vista o juízo divino,
Tiago convida seus leitores ao arrependimento.
Juízo,
justiça e termos derivados convites ao arrependimento, ao choro, à confissão
Tg.
1.20; Tg.4.7-10
A FÉ E AS OBRAS
Um
dos assuntos mais polêmicos que envolvem o livro de Tiago é o confronto entre
fé e obras. Tiago valoriza tanto uma coisa (1.6) quanto a outra (2.14). Porém,
sua carta fala mais das obras, já que o autor observou a gravidade da ausência
das mesmas na vida religiosa do povo. É como um médico que está indicando um
reforço alimentar para suprir a falta de determinado nutriente, sem, contudo,
menosprezar os outros.
A
fé é tão importante quanto fica demonstrado em Romanos e em Hebreus.
Entretanto,
se essa fé não produzir evidências visíveis, ela será como um plano que nunca
foi realizado e seremos como árvores infrutíferas. Obra é fruto (Tg. 3.13,17).
O fruto do Espírito é amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé,
mansidão e domínio próprio (Gálatas 5.22). Não obstante, tais virtudes precisam
se manifestar através de atos e fatos. O fruto não pode ser abstrato. Precisa
ser concreto. De que adianta um amor não revelado, não transmitido por meio de
ações? (I João 3.18). A fé opera pelo amor (Gálatas 5.6). O amor é o canal por
onde flui a fé. O resultado é obra.
A
fé se mostra superior nessa questão porque a nossa salvação depende dela.
"Pela
graça sois salvos mediante a fé" (Ef. 2.8). "Quem crer e for batizado
será salvo, mas quem não crer será condenado." (Mc. 16.16). Crer é fé.
Batismo é obra, ato físico. Observe que ninguém será condenado pela falta do
batismo e sim pela falta de fé. Entretanto, aquele que tem fé deverá
manifestá-la através de atos de obediência, inclusive batizando-se. As obras
devem ocorrer de acordo com os recursos e o tempo que Deus tiver nos concedido.
Por exemplo, o ladrão que se converteu na cruz ao lado de Cristo, não teve
tempo de se batizar nem fazer obra alguma. Contudo, foi salvo. Nós, porém, que
temos tempo e recursos devemos fazer boas obras, não para sermos salvos, mas
como fruto natural da nossa fé.
A
fé é superior porque produz as obras e não o contrário. Tiago diz: "... se
alguém disser que tem fé e não tiver as obras... porventura a fé pode
salvá-lo?" (Tg. 2.14). O autor não está condicionando a salvação à prática
de boas obras. O sentido é o seguinte: se a fé de alguém não produz obras,
pode-se concluir que essa mesma fé não produzirá salvação, pois é ineficaz ou
inexistente.
CONFLITO APARENTE ENTRE TIAGO E PAULO
"Vedes
então que o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé." Tiago
2.24.
"Concluímos,
pois que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei" - Paulo, em
Romanos 3.28.
Lendo
estes dois versículos, podemos pensar que Tiago e Paulo estão se contradizendo.
Alguns comentaristas afirmam que a contradição existe e que é inexplicável. O
próprio reformador Martinho Lutero tinha essa posição e chegou a usar a
expressão "epístola de palha" para se referir ao livro de Tiago. Há
quem diga que Tiago tenha escrito para atacar Paulo e seus ensinamentos. Tais
hipóteses atentam contra a inspiração divina das Sagradas Escrituras. Outros
teólogos apresentam a seguinte solução:
Ao
escrever aos Romanos, Paulo apresentou argumentos que tinham por objetivo
combater a tese judaizante daqueles que exigiam dos gentios o cumprimento da
lei mosaica. Diante disso, o apóstolo deixou claro que a salvação não depende
das obras da lei, não depende dos rituais judaicos. Em sua exposição, Paulo
lembra aos leitores que Abraão não foi justificado pelas obras da lei nem mesmo
pela circuncisão, já que o patriarca teve sua experiência com Deus num tempo em
que a lei mosaica não existia e até mesmo antes de ser circuncidado. Portanto,
sua experiência foi baseada na fé.
Paulo
não estava falando de boas obras, de modo geral. Ele estava se referindo
especificamente àquelas obras exigidas pela lei.
Por
sua vez, Tiago está preocupado com "o outro lado da moeda". Muitos
cristãos estavam reduzindo o cristianismo a uma religião teórica, apenas
espiritual, sem efeitos visíveis. A estes, Tiago diz que as obras são
importantes. Abraão é usado novamente como exemplo. Depois de ter sua
experiência pela fé, Abraão não cruzou os braços. Abraão agiu. Ele saiu da sua
terra, se dispôs a oferecer Isaque, e fez tudo aquilo que Deus queria que ele
fizesse.
Imagine
que alguém entra no prédio de uma escola e queira logo apresentar trabalhos de
pesquisa, fazer provas e exercícios. Será que a direção acadêmica aceitará tudo
isso? De maneira nenhuma. Se o indivíduo não está matriculado, ainda não é
aluno da escola. Então, não tem nenhum valor qualquer trabalho apresentado por
ele. O que é necessário? A matrícula, o compromisso, o vínculo.
Então,
depois de matriculado, imagine que esse novo aluno resolva ficar em casa,
totalmente alheio aos seus deveres escolares. Então a direção da escola irá
procurá-lo para cobrar tudo o que ele deveria estar fazendo. Assim, antes de
sermos cristãos, de nada adiantam as nossas boas obras. "Paulo está
dispensando". Entretanto, agora que estamos salvos pela fé, precisamos
executar as obras como fruto normal de um cristianismo autêntico e sadio.
"Tiago está cobrando".
Em
Romanos 3, Paulo está apresentado à futilidade das obras da lei no plano de
salvação. Em outros escritos seus, o apóstolo deixa claro o quanto valoriza as
boas obras de modo geral. Não que elas possam nos salvar. "Pela graça sois
salvos, por meio da fé, e isso não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das
obras, para que ninguém se glorie." (Efésios 2.8-9). Entretanto, devemos
fazer boas obras, porque este é um dos motivos da nossa permanência neste
mundo. Caso contrário, poderíamos ter sido arrebatados no momento da conversão.
"Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as
quais Deus preparou para que andássemos nelas." (Efésios 2.10). Observe
que são palavras de Paulo, na continuação do texto mencionado anteriormente.
Quando
escreveu a Tito, Paulo colocou nas boas obras a maior ênfase da carta (Tito
2.7,14; 3.1,8 14). Contudo, no mesmo texto, o apóstolo deixa claro que as obras
não salvam (Tito 3.4-5).
Considerando
suas epístolas de modo geral, Paulo enfatiza a fé, sem desvalorizar as obras.
Tiago enfatiza as obras, sem desvalorizar a fé. De fato, ambas as coisas são
importantes. A fé sem as obras é morta. Da mesma forma, as obras sem fé são
obras mortas (Hb. 6.1).
Em
caso de utilização impressa do presente material, favor mencionar o nome do
autor:
Anísio Renato de Andrade - Bacharel em Teologia.
BIBLIOGRAFIA
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GONZÁLEZ,
Justo L., Uma História Ilustrada do Cristianismo - Volume 1 - Ed. Vida Nova.
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H. Wayne, O Novo Testamento em Quadros - Ed. Vida
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Flávio, A História dos Judeus - CPAD
DOUGLAS,
J.D., O Novo Dicionário da Bíblia - Ed. Vida Nova
Bíblia
de Referência Thompson - Tradução de João Ferreira de Almeida - Versão
Contemporânea - Ed. Vida
Bíblia
Sagrada - Tradução de João Ferreira de Almeida - Versão Revista e Atualizada -
Sociedade Bíblica do Brasil.
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